RESUMOS ENCAMUZENZA 2025
CAPOEIRA EM PORTO ALEGRE NA DÉCADA DE 1970:
OS MESTRES, O INÍCIO E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
DUTRA, Mario Augusto da Rosa
*Palestra de Abertura do ENCAMUZENZA 2025
A capoeira, prática corporal constituída por elementos de luta e dança, que tem suas origens no movimento de resistência dos africanos escravizados no Brasil. Em Porto Alegre, apesar de haver registros de sua prática desde o início do século XIX é somente a partir de 1970, com a chegada dos primeiros mestres quem vem da Bahia, Rio de Janeiro e Paraná, que ela passa a ser ensinada de forma sistematizada em nossa cidade. Esses mestres são considerados “matrizes” uma vez que a capoeira vivenciada nos dias atuais em Porto Alegre tem muitas implicações do trabalho que cada um deles desenvolveu a partir de 1970. Diante disso, o objetivo deste estudo foi compreender o cenário da época a partir das memórias dos mestres e alunos que viveram a capoeira nesse período em Porto Alegre. Para isso, utilizei como metodologia de pesquisa a história oral, em que realizei entrevistas semiestruturadas com oito mestres de capoeira que na década de 1970 vivenciaram essa prática em Porto Alegre. Após a análise das entrevistas, em diálogo com outros estudos que já haviam se dedicado a compreender a capoeira em Porto Alegre, foi possível compreender que em 1970 houve pessoas responsáveis pela implantação e desenvolvimento da capoeira portoalegrense, que em academias, clubes e universidades ministravam aulas para um público jovem, branco e de classe média, mas que, em uma dimensão menor, teve seu contraponto nos capoeiristas da periferia da cidade. Neste período a capoeira possui um caráter focado no esporte e na luta, surgindo os primeiros batizados para avaliação e mudança de nível técnico. Os parques se tornam palcos para as exibições públicas, chamadas de rodas de rua e muitas vezes também foram arenas para confrontos entre os próprios capoeiristas ou com lutadores de outras artes marciais. Neste período surgem os primeiros professores formados em terras gaúchas, que dão continuidade e expandem esta prática para todo o estado.
Palavras-chave: Capoeira; História; Porto Alegre; Gaúcha; Mestres; Matrizes; Desenvolvimento; Anos 70; Batizados; Academias; Clubes; Início; Memória
REFERÊNCIAS
FALCÃO, José Luiz Cirqueira. O jogo da capoeira em jogo de construção da práxis capoeirana. [Tese de Doutorado]. Salvador: UFBA, 2004.
GRAVINA, Heloisa. Por cima do mar eu vim, por cima do mar eu vou voltar: políticas angoleiras em performance na circulação Brasil-França. [Tese de Doutorado]. Porto Alegre: UFRGS, 2010.
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Dossiê. Inventário para registro e salvaguarda da capoeira como patrimônio cultural do Brasil. Ministério da Cultura: Brasília, 2007.
A INFLUÊNCIA DAS MÍDIAS SOCIAIS NO DESENVOLVIMENTO
DA CAPOEIRA NO MUNDO
KARASINSKI, Bartosz; KWIATKOWSKI, Michal
Página Capoeira Post
INTRODUÇÃO: O trabalho intitulado “A Influência das Mídias Sociais no Desenvolvimento da Capoeira no Mundo” investiga como as plataformas de mídia social contribuíram para a popularização e o desenvolvimento dessa arte marcial brasileira. Ele inclui uma análise das ações promocionais que possibilitam alcançar um público mais amplo, bem como o fenômeno da criação de comunidades online. O trabalho indica que as mídias sociais não apenas facilitam a troca de conhecimento e técnicas, mas também apoiam a organização de eventos e workshops, o que contribui para o crescimento global da popularidade da capoeira. As conclusões sugerem que as mídias sociais são uma ferramenta chave na construção de redes internacionais e permitem que artistas e praticantes alcancem novos alunos e entusiastas.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A página Capoeira Post no Instagram tem objetivos fundamentais: 1) Educação: Informar sobre a história, técnicas e filosofia da capoeira, a fim de aproximar essa arte marcial de um público mais amplo. 2) Motivação: Inspirar as pessoas a iniciarem treinamentos, por meio da publicação de vídeos de apresentações, treinos e histórias de sucesso de praticantes. 3) Construção de comunidade: Criar uma plataforma para estabelecer contatos entre pessoas envolvidas na capoeira, organizando eventos e workshops. 4) Promoção de eventos: Informar sobre workshops, competições, festivais e outros eventos relacionados à capoeira. 5) Estética e cultura: Apresentar a cultura relacionada à capoeira, incluindo música, dança e artes visuais, para destacar sua multidimensionalidade. 6) Incentivo à atividade física: Promover um estilo de vida saudável e os benefícios decorrentes de treinamentos regulares de capoeira. 7) Apoio a grupos de capoeira: Ajudar na promoção de grupos locais de capoeira e instrutores, para desenvolver comunidades locais. Promover a capoeira por meio das mídias sociais pode ser eficaz ao utilizar conteúdos dinâmicos e visualmente atraentes. Vídeos curtos mostrando técnicas e movimentos em plataformas como TikTok ou Instagram, enriquecidos com a música da capoeira, podem atrair as gerações mais jovens. Fotos e vídeos estéticos de treinos ao ar livre constroem a imagem do esporte como uma arte do movimento e da cultura. Relatos regulares, desafios para os seguidores e transmissões ao vivo no Facebook envolvem a comunidade, além de concursos e curiosidades sobre a história da capoeira que fortalecem o engajamento e a conscientização sobre essa disciplina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Promover a capoeira nas mídias sociais aumenta seu reconhecimento por meio de conteúdos atraentes e dinâmicos, engajando o público por meio de desafios, concursos e transmissões ao vivo. Isso possibilita a construção de uma comunidade engajada e o aumento do número de participantes nos treinos. As mídias sociais também são uma plataforma eficaz para educar sobre a história e a cultura da capoeira, além de organizar e promover eventos em larga escala.
REFERÊNCIAS
CHECOWICZ, David. Como promover seu perfil do Instagram?. Coconut Agency, 2024. Disponível em: <https://coconutagency.pl/instagram-jak-wypromowac-profil-bezplatnie/>. Acesso em: 17/ 12/ 2024.
COMO PROMOVER O INSTAGRAM GRATUITAMENTE E PAGO EM 2024. De Point, 2024. Disponível em: <https://depoint.pl/jak-wypromowac-instagrama/>. Acesso em: 17/ 12/ 2024.
COMO PROMOVER SEU NEGÓCIO NO INSTAGRAM. Social Elite, 2022. Disponível em: <https://socialelite.pl/jak-wypromowac-biznes-na-instagramie/>. Acesso em: 17/ 12/ 2024.
PROFISSÃO CAPOEIRA
SILVA, Kelvin Moreira Gomes da
Grupo Muzenza de Capoeira
INTRODUÇÃO: Em 2018, minha jornada no marketing digital teve início por meio de uma mentoria que um amigo me incentivou a participar. Essa experiência revelou o potencial das redes sociais como ferramenta para disseminação de conhecimento e inspiração. O que começou como uma simples produção de conteúdo, rapidamente evoluiu para algo mais significativo: a criação de um curso voltado à profissionalização da capoeira. Durante as sessões da mentoria, surgiram discussões sobre os desafios enfrentados por capoeiristas para se profissionalizarem. Muitos profissionais habilidosos apresentavam dificuldades em navegar pelos aspectos técnicos e comerciais da carreira, como precificação de serviços, elaboração de contratos e desenvolvimento de projetos. Essa realidade despertou em mim o desejo de oferecer um caminho estruturado para ajudar a preencher essa lacuna. Foi então que decidi criar um curso que englobasse múltiplas dimensões da profissão, desde a organização pessoal e busca por oportunidades até o posicionamento digital e negociações comerciais. Meu objetivo sempre foi o de contribuir para que outros capoeiristas pudessem enfrentar os desafios de sua carreira com mais confiança, valorizando sua arte e reconhecendo o valor de seu trabalho.
DESCRIÇÃO DE EXPERIÊNCIA: Desde o início da minha produção de conteúdo nas redes sociais, percebi o impacto positivo que os materiais relacionados à profissionalização da capoeira geravam. Diversos seguidores relataram mudanças significativas em suas perspectivas sobre a profissão. Alguns destacaram que os conteúdos os incentivaram a valorizar a capoeira como prestação de serviço e a enxergar a importância de atribuir valor ao seu trabalho. Outros mencionaram que decidiram iniciar uma faculdade após compreenderem, por meio do curso, a necessidade de ampliar seus conhecimentos. Os diálogos gerados também trouxeram à tona questões polêmicas e importantes, muitas vezes evitadas no universo capoeirístico. Em eventos presenciais, fui abordado por pessoas que comentaram sobre a relevância do curso, destacando como ele aborda tópicos essenciais e promove uma visão mais estruturada da carreira. Além disso, foi perceptível a influência do conteúdo nas redes sociais sobre a percepção de autovalor entre os capoeiristas. Muitos expressaram vergonha de admitir que davam aulas gratuitas, compreendendo que, ao fazê-lo, poderiam estar desvalorizando a capoeira como arte e profissão. Esse tipo de reflexão foi fomentado pelos conteúdos direcionados, que ressaltam a importância de se posicionar no mercado de forma profissional. No entanto, o maior impacto foi observado entre os alunos que se inscreveram no curso “Profissão Capoeira”, disponibilizado em plataformas digitais com aulas gravadas. Até o momento, mais de 150 pessoas participaram do curso, que é composto por nove módulos. Os alunos que aplicaram os conceitos ensinados relataram transformações significativas em suas carreiras. Alguns, inclusive, realizaram transições completas, deixando outras profissões para se dedicarem integralmente à capoeira. O curso se propõe a tirar o aluno do ponto zero e guiá-lo nos primeiros passos rumo à profissionalização. As estratégias apresentadas incluem ferramentas práticas, tarefas extras e conteúdos aplicáveis, abordando temas como precificação, organização de agenda, marketing digital, formalização de contratos e gestão de eventos. Essa abordagem sistemática tem ajudado os participantes a desenvolverem uma visão mais ampla e consciente sobre sua atuação profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este relato de experiência evidencia o impacto transformador do curso “Profissão Capoeira” na vida de seus participantes. Ao oferecer conteúdos acessíveis e práticos por meio de plataformas digitais, foi possível modificar a mentalidade de diversos profissionais de capoeira, estimulando-os a valorizar sua arte, buscar capacitação contínua e se posicionar de maneira mais assertiva no mercado. O curso também contribuiu para desmistificar tabus e abrir diálogos sobre questões essenciais, como precificação, formalização e reconhecimento do trabalho com a capoeira. Além disso, ajudou muitos profissionais a compreenderem a necessidade de atribuir valor à sua arte, permitindo-lhes alcançar maior estabilidade financeira e profissional. Concluo este relato reforçando a importância de iniciativas como essa, que unem tradição e modernidade para promover a valorização da capoeira como profissão. Espero que essa experiência inspire outros capoeiristas a abraçarem novas possibilidades e desafios em suas trajetórias, sempre com respeito à história e à essência dessa arte tão rica.
REFERÊNCIAS
MORAES, Joel. 100% Presente: Ed. Gente, 2019.
RIES Al, TROUT Jack. Posicionamento: M Books, 2009.
CEZAR, Chares. Marketing Digital: Guia prático, 2019.
A HIERARQUIA NA CAPOEIRA
SIEGA, Carson
INTRODUÇÃO: O presente texto tem como objetivo analisar e discutir a hierarquia na Capoeira, abordando desde suas prováveis origens até os dias atuais. A hierarquia na Capoeira reflete a distribuição de poderes e conhecimentos em escalas progressivas, possibilitando que os indivíduos compartilhem saberes e exerçam influência dentro de seu nível. Embora o termo “hierarquia” tenha surgido nos âmbitos militares e religioso, seu conceito se expandiu e permanece vigente em diferentes contextos. Na Capoeira, a hierarquia manifesta-se por meio de sistemas de graduação que organizam os praticantes, proporcionando uma estrutura que valoriza a experiência e o aprendizado.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A Capoeira atual apresenta três estilos principais: Angola, Regional e Contemporânea, cada um com suas peculiaridades. Os sistemas de graduação variam entre grupos, utilizando cordas, fitas ou outros símbolos para representar os níveis de desenvolvimento, desde o aluno iniciante até o mestre. Essa estrutura reflete valores de ancestralidade, que destacam o respeito aos mais velhos e a transmissão de conhecimentos pela tradição oral. A formação de mestres é um processo longo e complexo. Originalmente, os mestres eram reconhecidos pela experiência adquirida na “escola da vida”. Atualmente, é exigido um longo período de prática e validação pela comunidade, com um tempo mínimo de 25 anos de dedicação. Ritos de passagem, como o Batizado, desempenham papel central, simbolizando a transição para novos estágios de aprendizado e pertencimento ao grupo. Esses rituais, inspirados pela cosmovisão africana, reforçam a identidade coletiva e os laços culturais. A hierarquia também reflete relações de poder. Para autores como Foucault, essas relações estruturam as organizações sociais, como é o caso da Capoeira. Dentro desse contexto, os praticantes com maior técnica ou comportamento compatível com os valores do grupo ocupam posições de destaque. A partir das décadas de 1980 e 1990, a Capoeira sofreu influências das artes marciais orientais e do modelo militarista de Educação Física, o que levou à profissionalização e padronização de muitos sistemas de graduação. Apesar disso, ela manteve sua essência cultural e filosófica, promovendo liberdade, crescimento e educação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A hierarquia na Capoeira é essencial para sua organização e desenvolvimento, mas deve ser compreendida como ferramenta de crescimento coletivo, evitando o autoritarismo. A formação de mestres, antes baseada apenas na experiência prática, agora exige preparo pedagógico e maturidade, refletindo o compromisso com a evolução dos praticantes e da própria arte. Mais do que uma luta ou dança, a Capoeira é um agente de transformação social e educativa, alinhada aos princípios de coletividade da filosofia Ubuntu: “Eu sou porque todos nós somos”. Esse legado reforça a importância de preservar suas tradições e valores, promovendo o bem-estar, a liberdade e a fraternidade em um mundo cada vez mais individualista.
Palavras-chave: Capoeira; Hierarquia; Relações de poder
REFERÊNCIAS
COLUMÁ, Jorge Felipe. Arte, magia e malandragem, o imaginário cantado nas rodas de Capoeira. Niterói, RJ. Nitpress, 2012.
ITAPOAN, César. Mestre Bimba, eu e a capoeira regional. In: Negaça. vol.2/n.2, Programa Nacional de Capoeira; Ginga Associação de Capoeira, Brasília/DF: CIDOCA, 1994. p. 19.
KEIM, Ernesto Jacob; SILVA, Carlos José. Capoeira e Educação Pós-colonial: Ancestralidade, Cosmovisão e Pedagogia Freiriana. Jundiaí, SP. Paco Editorial, 2012.
LIMA, Manoel Cordeiro. Dicionário de Capoeira. Brasília, 2005.
MARELY, Reuel Pereira. Capoeira e eficácia simbólica: apontamentos teóricos e aportes empíricos – 2013. 127 f. Orientador: Otávio Guimarães Tavares da Silva. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Educação Física e Desportos.
RODOLPHO, Adriane Luisa. Rituais, ritos de passagem e de iniciação: uma revisão bibliografia antropológica. In: Estudos Teológicos. n.2, ano 44, São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2004. p. 139.
SIEGA, Carson Luiz. Capoeira, Corpo, Espiritualidade – Dissertação de Mestrado em Teologia – IEPG/EST – 2008, São Leopoldo/RS.
CAPOEIRA NA LONGEVIDADE
CARNEIRO, Nelson Hilário; CASTILHA, Fábio André
Grupo Muzenza de Capoeira/ Instituto Federal de Educação do Paraná
O envelhecimento é um processo natural, multifatorial, complexo e individual, determinado em parte pela presença ou ausência de doenças, pelo ambiente, pelo acúmulo de danos celulares e moleculares ao longo dos anos. Além disso, esta fase da vida resulta em diversas modificações morfológicas e neuromusculares, com destaque para a redução da força muscular (MANINI; CLARK 2012) e da MME (LARSSON et al., 2019). Tais alterações podem resultar em declínio funcional importante, afetando as atividades de vida diárias (AVDs), tais como sentar e levantar de uma cadeira, subir e descer escadas, caminhar ao longo de uma faixa de pedestres em tempo suficiente para evitar acidentes, entre outras (GORE et al., 2018; ACHER, 2012). Estudos realizados, principalmente, nas últimas duas décadas têm revelado o impacto positivo do treinamento de força (TF) sobre variáveis neuromusculares, morfológicas e funcionais. Além disso, o TF tem sido considerado um dos modelos de treinamento mais seguros para idosos, uma vez que é possível exercer maior controle sobre as suas variáveis (carga, ordem de execução, intervalos entre as séries e os exercícios velocidade de execução e frequência) (SANTARÉM, 2012). Logo, a redução da força muscular é um fator de risco independente para incapacidade física e mortalidade por todas as causas (GARCÍA-HERMOSO et al. 2018; CHARLTON et al., 2015). Nesse sentido, para que haja melhora na aptidão funcional, bem como impactos positivos na promoção da saúde no envelhecimento, é necessário que a prática de exercícios físicos seja realizada de forma regular e programada. Entretanto, muitas pessoas não conseguem aderir ao programa de TF, muitas vezes por não gostar de ficar em ambiente fechado, ter que esperar o tempo de intervalo entre as séries etc. Tendo em vista que a força muscular é importante, é necessário ter outras capacidades físicas (aptidão física), para que o idoso tenha sua independência física. O conceito de aptidão funcional refere-se à capacidade de um indivíduo de conservar competência, habilidades físicas e mentais para viver de forma independente e autônoma (IZQUIERDO et al., 2021). Assim, a aptidão funcional depende de diversos componentes, em especial, da força muscular, potência, equilíbrio, velocidade da caminhada, agilidade e aptidão cardiorrespiratória (CORMIE et al., 2011; KIM et al., 2017; RANSDELL et al., 2021). Portanto, a melhoria ou até mesmo a manutenção da aptidão funcional em idosos pode resultar em melhor qualidade de vida e, consequentemente, em um envelhecimento bem-sucedido (FIORILLI et al., 2022). Nesse sentido, a prática de Capoeira na Longevidade realizada como exercício físico, tem como objetivo melhorar as capacidades físicas, por meio de atividades planejadas, estruturadas, repetitivas, com música e danças. Estudo realizado por Carneiro; Garcia, (2009), mostrou ser eficiente para melhorar o equilíbrio, flexibilidade, resistência de membros inferiores, potência e agilidade. Assim, melhorando a saúde, controle do peso, manter os músculos fortes, o coração saudável, e a independência na realização das atividades de vida diária e na prevenção de doenças. Segundo Carneiro; Garcia Junior, (2009), a musicalidade envolvida nas atividades físicas geralmente propicia um ambiente positivo e agradável, reforçando a sensação de “desligamento” ou um estado de “fluxo ou fluência” no qual o indivíduo permanece intrinsecamente motivado e totalmente envolvido e absorvido na atividade, sem se preocupar com o significado que suas ações despertam nos outros. (NOBREGA et al., 1999). As atividades físicas de intensidade e duração moderadas visam ao estímulo da capacidade aeróbica e ao desenvolvimento ou manutenção das estruturas e funções osteoarticulares e musculares. Além disso, contribuem para melhor aprendizagem motora, da capacidade cognitiva, de aprendizagem, autoestima e saúde mental, podendo desacelerar os processos degenerativos físicos e mentais, sendo preventiva e terapêutica para males como ansiedade e depressão e contribuindo para aumentar a longevidade (FOX et al., 2007). Como exercício físico, a capoeira abarca todas as partes do corpo de forma harmoniosa (melhorando a coordenação motora), podendo ser praticada por pessoas de qualquer faixa etária porque os limites são determinados por cada indivíduo (NÓBREGA et al., 1999). Especialmente para os idosos, a capoeira funciona como prevenção, reabilitação e terapia para recuperar e manter a autoestima de uma população que tem sua experiência pouco valorizada pela sociedade. Quando valorizados e cientes dos benefícios proporcionado por meio da prática da capoeira, os idosos são tão capazes quantos os mais jovens. Além disso, os idosos superam em presença, pontualidade, dedicação e gratidão. Logo no início do programa é extremamente necessário aplicar anamnese (questionário), bem como da avaliação física, ou seja, mensurar (medir), para prescrever e orientar exercícios que melhor atendem as necessidades dessa população. Além disso, reavaliar a cada seis meses, para verificar o efeito do treinamento. Apresentar esses dados aos praticantes é uma boa contrapartida. Dessa maneira, teremos como comprovar os efeitos benéficos por meio da prática segura e prazerosa da Capoeira na Longevidade, além de não ser uma atividade contraindicada por conta das doenças crônicas degenerativas já instaladas, ainda é recomendada pelos vários efeitos benéficos proporcionados.
CAPOEIRA E JIU-JITSU, CONEXÃO ENTRE ARTES MARCIAIS BRASILEIRAS: REVISÃO NARRATIVA DE LITERATURA.
COSTA, Rafael Fiorese;
SILVA, Jéssica Nayara Cordeiro da; FIGUERÔA, Emerson Luiz
Grupo Muzenza de Capoeira
INTRODUÇÃO: As artes marciais representam manifestações autênticas e profundas de um povo, englobando não apenas a luta física, mas também aspectos culturais, expressões corporais e elementos mentais que são características de uma determinada época e contexto histórico. A capoeira e o jiu-jitsu brasileiro se destacam como práticas genuinamente nacionais, cada uma com suas peculiaridades que contribuíram para sua evolução e consolidaram sua identidade no cenário atual de cada uma. Enquanto a capoeira é uma combinação de dança, luta e ritual, com forte influência da cultura afro-brasileira, o jiu-jitsu brasileiro, originado do Japão, passou por um processo de adaptação e evolução que o tornou um dos esportes de combate mais respeitados no mundo.
OBJETIVO: O objetivo deste estudo é estabelecer uma conexão entre a capoeira e o jiu-jitsu brasileiro, explorando sua interação ao longo da história do Brasil. Foram investigadas como essas duas artes marciais se modificaram ao longo do tempo, enfatizando os períodos e as adaptações necessárias ao contexto de cada época, e de que forma uma contribuiu para o desenvolvimento da outra ao longo do tempo. O estudo visa compreender como esses dois elementos se influenciaram mutuamente, ajudando a moldar as manifestações atuais de ambas às práticas.
METODOLOGIA: O estudo realizado é do tipo revisão narrativa baseada em busca aos bancos de dados acadêmicos: SciELO, Periódico CAPES e EBSCO. Utilizando os termos de busca “capoeira”, “jiu-jitsu brasileiro” e “gracie jiu-jitsu”, foram encontrados 19 artigos que abordavam as duas modalidades. A partir dessa seleção inicial, foram escolhidos os artigos que apresentavam uma relação direta entre os dois temas, totalizando ao final 5 artigos relevantes para o desenvolvimento da análise. A metodologia adotada permite uma visão abrangente, mas focada nas conexões históricas, culturais e metodológicas entre essas práticas.
RESULTADOS: Os artigos analisados apresentaram uma relação direta entre capoeira e jiu-jitsu brasileiro, identificando que as duas modalidades compartilham influências e interações, sendo elas relacionadas no contexto histórico e cultural, metodologias de ensino e aprendizado e internacionalização como ponto em comum, com ambos os esportes conquistando notoriedade global. A análise histórica permitiu destacar o primeiro embate significativo entre essas duas modalidades, o que marcou um momento crucial na relação entre elas, gerando discussões sobre as características e eficácia de cada uma.
CONCLUSÃO: Embora a capoeira e o jiu-jitsu brasileiro apresentem características distintas em termos de expressão corporal, com a capoeira se destacando por sua fusão de dança e luta e o jiu-jitsu pela ênfase em técnicas de combate no solo, ambas às práticas têm origens e trajetórias interligadas. O desenvolvimento histórico de ambas demonstra uma via de mão dupla, em que uma influenciou a outra ao longo do desenvolvimento. Assim, apesar das diferenças no processo de aceitação, essas artes marciais compartilham um processo de maturação e aprimoramento contínuo, refletindo o dinamismo e a adaptabilidade característica da cultura brasileira.
Palavras-chave: Capoeira; Jiu-jitsu Brasileiro; Gracie jiu-jitsu.
REFERÊNCIAS
SILVA, Marcelo Moraes e. A construção de um improvável herói esportivo: o capoeira cyriaco (1909-1925). Tempo, [S.L.], v. 30,2024.
ROCHA, Angela da; ESTEVES, Felipe; MELLO, Renato Cotta de; SILVA, Jorge Ferreira da. Diasporic and Transnational Internationalization: the case of brazilian martial arts. Bar – Brazilian Administration Review, [S.L.], v. 12, n. 4, p. 403-420, dez. 2015.
ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. Ringue ou academia? A emergência dos estilos modernos da capoeira e seu contexto global. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, [S.L.], v. 21, n. 1, p. 135-150, 1 jan. 2014.
LISE, Riqueldi Straub; CAPRARO, André Mendes. Primórdios do jiu‐jitsu e dos confrontos intermodalidades no Brasil: contestando uma memória consolidada. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, [S.L.], v. 40, n. 3, p. 318-324, jul. 2018.
MOCARZEL, R. C. S. GOMES, M. S. P. RUFINO, L. G. B Lutas, artes marciais e esportes de combate do Brasil: Análise e panorama de modalidades marciais brasileiras. Mosaico – Revista Multidisciplinar de Humanidades, Vassouras, v. 15, n. 1, Edição Especial, p. 12-24, jan./abr. 2024.
ASSOCIAÇÕES E INSTITUTOS:
UM CAMINHO PARA A ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO CAPOEIRISTICO
CASTILHA, Fábio André
Associação de Capoeira Pedagógica/
Grupo Muzenza de Capoeira/ Instituto Federal de Educação do Paraná
INTRODUÇÃO: As associações privadas e/ou institutos são entidades formadas por pessoas que compartilham objetivos e interesses comuns, tais como culturais, esportivos, sociais, educacionais ou religiosos, geralmente com fins não econômicos. No Brasil, elas são regidas pelo código civil, Lei Nº 10.406, de 2002, pela Constituição Federal e leis correlatas, que lhes garantem o direito à livre associação (SEBRAE, 2024). Diferentemente de empresas, elas não têm como finalidade o lucro, mas a realização de atividades voltadas para seus propósitos, que geralmente envolvem o terceiro setor/voluntariado.
DESCRIÇÃO DE EXPERIÊNCIA: Uma associação ou instituto privado, independentemente de sua linha de atuação, deve possuir uma estruturação básica que se dá a partir de sua constituição legal, onde uma reunião de pessoas – no mínimo 10, interessadas em formalizar a entidade elaboram um documento, sob orientação jurídica e contábil, denominado estatuto social, no qual são detalhados os objetivos, regras internas e orientações para o seu funcionamento. A partir da construção do estatuto, este documento deve então ser registrado em cartório, para que o mesmo passe a ter personalidade jurídica, permitindo que a entidade funcione legalmente. Desta forma, já é possível então solicitar um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para que então a entidade possa realizar transações financeiras e administrativas. Em geral, a estruturação interna das entidades é composta por órgãos e funções que garantem sua administração e operação, tais como a Assembleia Geral, que é o órgão máximo de decisão da associação, formado por todos os associados. As assembleias gerais devem ser periódicas para aprovar decisões importantes pertinentes à entidade, como alterações no estatuto e aprovação de contas (Oliveira et al, 2019). Também, é na primeira assembleia geral da entidade que se elege uma Diretoria Executiva, diretoria esta que será responsável pela gestão administrativa e operacional da entidade por um período determinado no estatuto, sendo esta composta por cargos definidos no estatuto, tais como presidente, vice-presidente, tesoureiro e secretário. Também, se faz necessário um Conselho Fiscal, o qual tem a atribuição de fiscalizar as contas e as atividades financeiras da entidade, garantindo que seus recursos sejam utilizados conforme seus objetivos e leis vigentes. Embora as entidades não tenham fins lucrativos, elas precisam de recursos financeiros para operar, portanto, precisam captar recursos. As principais fontes de financiamento incluem: mensalidades e contribuições, pagas pelos associados regularmente; doações feitas por indivíduos, empresas ou instituições; patrocínios auferidos a partir de parcerias com empresas interessadas em apoiar as atividades da associação; realização de eventos, como festivais, feiras, bazares, cursos ou outras atividades para arrecadar fundos, além da participação da entidade em editais e convênios, captando recursos através de projetos apresentados a órgãos governamentais ou instituições privadas. A entidade deve planejar suas atividades e definir metas para o ano, incluindo a organização de eventos, execução de projetos e investimento em ações que beneficiem os associados ou a comunidade. Ademais, é fundamental que a entidade preste contas de suas atividades e recursos de forma clara e acessível aos associados e, quando necessário, às autoridades públicas. Como entidade legalmente constituída, uma associação ou instituto deve cumprir obrigações fiscais, trabalhistas e legais, incluindo o envio de declarações fiscais e o pagamento de tributos, se aplicável (IBGE, 2016). Se por algum motivo a entidade não puder continuar suas atividades, sua dissolução deverá seguir o que está definido no estatuto; geralmente, os bens remanescentes devem ser destinados a outra entidade com propósitos semelhantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Em linhas gerais, uma entidades sem fins econômicos deve seguir os princípios listados neste breve relato para que alcance seus objetivos, possa captar recursos de diversas formas para que atenda às necessidades e anseios de seus associados e comunidade atendida, respeitando as obrigações legais e promovendo impacto social positivo.
Palavras-chave: Associação; Instituto; Entidade sem fins econômicos
REFERÊNCIAS
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. As fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil: 2016. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. (Estudos e Pesquisas: Informação Econômica, n. 32). Disponível em: ˂https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101647.pdf>. Acesso em 3 dez 2024
OLIVEIRA, Clician do Couto, Denise Guichard Freire, e Francisco de Souza Marta. Aspectos Metodológicos Do Estudo As Fundações Privadas E Associações Sem Fins Lucrativos No Brasil (FASFIL). 2019.
SEBRAE. Tipos de associações sem fins lucrativos. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ap/artigos/quais-os-tipos-de-associacao-sem-fins-lucrativos,27b597daf5c55610VgnVCM1000004c00210aRCRD. Acesso em 3 dez 2024.
PROJETO SOCIAL: ESTUDO ESTIMULADO PELA GINGA
PINTO, Cristian Tiago Martins
Grupo Muzenza de Capoeira
INTRODUÇÃO: O Projeto Estudo Estimulado Pela Ginga é voltado para crianças/adolescentes de 02 aos 12 anos de idade que frequentam a educação básica (principalmente a educação infantil e ensino fundamental), beneficiando as vilas São Lucas e Planalto no município de Viamão no estado do Rio Grande do Sul. Atividade que acontece anualmente, uma vez por semana com duração de 60 minutos. É uma oficina acessível a todos os indivíduos, independentemente de sua classe social, origem, raça, etnia, gênero, orientação sexual ou deficiência. A capoeira é uma excelente ferramenta de inclusão social e foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2008) e a Roda de Capoeira foi inscrita no Livro de: […] Registro das Formas de Expressão, em 2008 – é um elemento estruturante de uma manifestação cultural, espaço e tempo, onde se expressam simultaneamente o canto, o toque dos instrumentos, a dança, os golpes, o jogo, a brincadeira, os símbolos e rituais de herança africana – notadamente banto – recriados no Brasil. […] O reconhecimento da Roda de Capoeira, pela Unesco, é uma conquista muito importante para a cultura brasileira e expressa a história de resistência negra no Brasil, durante e após a escravidão (IPHAN, 2014). Uma oficina de capoeira é classificada como educação não-formal, mas, se faz presente no ensino formal (principalmente na educação infantil). Na educação nãoformal a cidadania é o objetivo principal, e ela é pensada em termos de coletivo. A Capoeira também vem ganhando espaço nas universidades e nos mais variados cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado. Através do “Estudo Estimulado Pela Ginga” me formei no Curso de Licenciatura em História (26 de maio de 2023 pela UNICESUMAR/PR. Atualmente estou no 6º semestre do Curso de Serviço Social – Bacharel pela UNIP/SP. Nos projetos sociais que acontecem em associações de moradores, clube de mães, praças e parques públicos, temos a figura do “educador social”, e uma das principais propostas é o trabalho voluntário voltado para as camadas mais pobres da população, que são negligenciados pelo poder público. O Projeto Estudo Estimulado pela Ginga tem como princípio norteador preservar nosso Patrimônio Cultural Imaterial, bem como para a conscientização de nossos direitos e deveres, enquanto seres intuitivos, críticos e capazes de perceber as desigualdades existentes propondo soluções condizentes com a realidade, tornando-os agentes críticos transformadores do meio em que vivem. O acesso à cultura, especificamente neste projeto, será a prática da capoeira, onde oferecerá aos alunos a oportunidade de socialização, criação artística e desenvolvimento de percepção e sensibilidade restritas muitas vezes apenas às camadas mais privilegiadas da sociedade. Tem por foco a constituição de espaço de convivência, formação para a participação e cidadania, desenvolvimento do protagonismo e de autonomia das crianças e adolescentes, a partir dos interesses, demandas e potencialidades dessa faixa etária. As atividades serão pautadas em experiências lúdicas, culturais e esportivas. Aprofundar conhecimentos a respeito da História e Cultura Afro-brasileira que contribuem na formação da identidade, religando saberes significativos para contextos de vida. Mostrar a capoeira propiciando o aprendizado entendendo sua cultura desde sua origem, seu desenvolvimento e contribuição na sociedade até os dias de hoje através do Projeto Estudo Estimulado Pela Ginga, assegurando a aplicação da lei 10.639/2003, proporcionando a todos o direito à cultura, também contribuindo para o pleno desenvolvimento do cidadão.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O Projeto Estudo Estimulado Pela Ginga após o período da pandemia, passou a contar com apoios financeiros para projetos culturais e artístico, por meio de editais que concorri e obtive boa pontuação dos pareceristas. Minha experiência com projetos sociais sempre foi em ambientes educacionais e/ou com crianças que frequentam a escola, por isso o nome “Estudo Estimulado Pela Ginga”. É importante valorizar a capoeira como uma forma de expressão artística, de resistência e de inclusão social, promovendo a integração e o intercâmbio cultural entre os praticantes e a comunidade escolar. Dessa forma, a “Capoeira na/da escola” pode ser uma importante ferramenta de promoção da cultura e do bem-estar, proporcionando momentos de lazer, aprendizado e convivência para os seus praticantes e para toda a comunidade local. Também é fundamental a participação da sociedade civil, através dos conselhos, comitês e coletivos de cultura, para que a leis de políticas públicas sejam aplicadas de forma democrática, inclusiva, justa e rapidamente chegue aos seus reais beneficiários. A exemplo da Lei Aldir Blanc, também conhecida como Lei de Emergência Cultural, que foi criada em 2020 com o objetivo de auxiliar financeiramente o setor cultural durante a pandemia do Covid-19. Muitos grupos de capoeira sofreram com a paralisação das atividades durante a pandemia e se beneficiaram dos recursos disponibilizados pela lei para a realização de atividades on-line, presenciais com protocolos de segurança ou para a manutenção das estruturas dos grupos. O texto da Lei Aldir Blanc não estabelece que os Espaços Culturais precisam ter CNPJ ou sede própria. Espaços públicos das ruas, praças, quadras e parques, quando ocupados por atividades culturais de grupos, coletivos ou associações, de forma regular e permanente, são também Espaços Culturais. Art. 8º Compreendem-se como espaços culturais todos aqueles organizados e mantidos por pessoas, organizações da sociedade civil, empresas culturais, organizações culturais comunitárias, cooperativas com finalidade cultural e instituições culturais, com ou sem fins lucrativos, que sejam dedicados a realizar atividades artísticas e culturais, tais como: I – pontos e pontões de cultura; II – teatros independentes; III – escolas de música, de capoeira e de artes e estúdios, companhias e escolas de dança; […]. (LAB, 2020). É importante que os representantes de grupos de capoeira que trabalham com projetos sociais estejam atentos aos prazos e procedimentos estabelecidos em seus respectivos estados e municípios, a fim de garantir o acesso aos recursos disponíveis. No período de isolamento social na pandemia, participei cursos online referente a Lei Aldir Blanc, além de fazer parte do Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC) de Viamão desde 2011 aos dias atuais, sempre atuando como conselheiro titular pelo segmento Capoeira, e neste ano de 2024 junto com meu suplente Sérgio Oliveira (Professor Boca), conquistamos a Lei 5434/2024 que altera a Lei de nº 3.886/2011 que institui a Semana Municipal de Capoeira e dá outras providências. O processo de implementação dessas leis de fomento cultural são uma ótima oportunidade para o fortalecimento dos fóruns e conselhos municipais, fortalecendo e estruturando o Sistema Nacional de Cultura em todo o país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O projeto social de capoeira tem sido uma experiência enriquecedora para mim e para os participantes. Ver o sorriso no rosto de cada criança e adolescente durante as aulas me motiva a continuar dedicando meu tempo e energia para essa causa tão nobre. A capoeira tem o poder de transformar vidas e estou muito feliz em fazer parte desse processo.
Palavras-chave: Educação; História; Cultura; Vulnerabilidade Social; Socialização
REFERÊNCIAS
ARTICULAÇÃO NACIONAL DE EMERGÊNCIA CULTURAL. Lei de Emergência
Cultural Ponto a Ponto. Youtube, canal Emergência Cultural, curso ministrado ao vivo em 08 de junho de 2020. Disponível em:
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BRAICK, Patrícia Ramos. Estudar história: das origens à era digital – 1. Ed. – São Paulo: Moderna, 2011. Obra em 4 v. para alunos do 6º ao 9º ano.
BRASIL, Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação/MEC: 2017.
Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/historico/BNCC_EnsinoMedio_embai xa_si te_110518.pdf>. Acesso em: 28/05/2022.
______, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – I.P.H.A.N. online, São Paulo. Disponível em: http://www.iphan.gov.br Acesso em 04 de maio de 2020.
______. Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afrobrasileira, nos ensinos Fundamental e Médio – Brasília – 2008.
______, Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Brasília: SEF, 2003. LIMA, Ana Lúcia Sales; BORTOLOSSI, Cintia; PEREIRA, Luciene Maria Pires. Prática de Ensino: vivência no ambiente educativo. Centro Universitário de Maringá: Maringá, 2020.
GADOTTI, Moacir. Diversidade cultural e educação para todos. Rio de Janeiro: Graal, 1992.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e o educador social: atuação no desenvolvimento de projetos sociais. São Paulo: Editora Cortez, 2010.
SILVA, Fernanda; et al. Pessoas comuns, histórias incríveis: a construção da liberdade na sociedade sul-rio-grandense. Porto Alegre: Ed. UFRGS; EST Edições, 2017.
TURINO, Célio. Lei Aldir Blanc: Modos de Usar. Outras Palavras, 15 de julho de 2020. Disponível em: <https://outraspalavras.net/poeticas/lei-aldir-blanc-modos-deusar/>. Acesso em: 21/08/2020
VIDOR, Elisabeth. Capoeira: uma herança cultural afro-brasileira / Elisabeth Vidor e Letícia Vidor de Souza Reis. – 1.ed.- São Paulo: Sielo Negro, 2013.
PROJETO RASTEIRA NA FOME:
A CAPOEIRA ALÉM DAS PERNADAS NAS ENCHENTES DO RIO GRANDE DO SUL
SILVA, Fabiano Silveira; PLACEDINO, Fernando Campiol
Associação Cultural Rasteira na Fome
INTRODUÇÃO: Entre os dias 27 de abril e 02 de maio de 2024, o Rio Grande do Sul passou a viver a sua maior catástrofe climática. Dos 497 municípios que compõem o Estado, 484 foram assolados pelas águas. A estimativa, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Governo Federal do Brasil é de que 876,2 mil pessoas, em 420,1 mil domicílios, foram diretamente atingidas pelas enchentes. Até o momento, conforme a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, já se identificou 183 mortes e 29 pessoas seguem desaparecidas. Aproximadamente 13 mil animais foram resgatados. No dia 03 de maio, a capital Porto Alegre sofreu inundação através do lago Guaíba, atingindo o nível de 4,77 metros (superando a cheia histórica de 1941, que era de 4,76 metros). Dois dias depois, as águas alcançaram um nível recorde de 5,35 metros. A capital dos(as) gaúchos(as) colapsou. Hospitais, farmácias, rodoviária, aeroporto, depósitos de abastecimentos, comércio ficaram debaixo da água e lama. Bloqueio de estradas, interrupção de fornecimento de energia elétrica e desligamento das estações de tratamento de água perduraram por longos dias. O povo tinha sede e fome. Frente a todo esse contexto caótico, como a Capoeira ficou? Que postura os(as) capoeiristas tiveram? Que ações emergenciais e efetivas foram feitas através do gingado ancestral?
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A Associação Cultural Rasteira na Fome (A.C.R.F.) é uma instituição cultural e solidária, sem fins lucrativos, com os objetivos de valorizar a Cultura Afro-brasileira, com ênfase na Capoeira, além de combater permanentemente uma das maiores problemáticas sociais do País: a fome. Perante a tragédia transcorrida no Rio Grande do Sul, a Entidade precisou que os(as) seus(suas) capoeiristas e demais camaradas dessem “volta ao mundo”, a fim de se mobilizarem, organizarem, articularem e agirem para um jogo de Capoeira além das pernadas. Gingou-se com pessoas pelas ruas, becos e vielas, embalando através de mutirões de limpeza conquistas, sonhos, histórias de vida que, ainda hoje, formam intermináveis montanhas de entulhos pelas calçadas das ruas. A roupa branca e os pés descalços dos(as) capoeiristas tiveram de ser substituídos pela capa de chuva, a calça e a bota de borracha lameadas. Nunca foi tão importante praticar o ensino da cantiga “quem não sabe andar, pisa no massapê e escorrega”. Afinal, devagarinho, com atenção e paciência, pelas tábuas enfraquecidas, pelas estradas tomadas de buracos e lodo, pelos escombros de armários, camas e sofás empilhados pela cidade foi preciso “pisar maneiro, camará!”. A malemolência no pensar e agir se fez presente a cada carreta de doações que chegava. Encontrar a melhor estratégia para tirar as lonas pesadas dos caminhões das mais diferentes partes do Brasil e repassar aos(às) camaradas, que estavam lado a lado, os materiais de cima da boleia o quanto antes para não molhar na chuva foi manha, malícia e mandinga. Por dias intermináveis em Porto Alegre, Guaíba, Canoas, Eldorado, Charqueadas… cada capoeirista fez conforme diz na música, “eu caminhei meu mano! E como eu andei pra chegar até aqui!”. Voltas ao mundo incessantes para levar um agasalho quentinho, uma marmita saborosa e um pouco de água para matar a sede do povo. Nunca se deu tanta “bicuda” em portas e paredes de madeira para conseguir chegar num cômodo de uma casa e resgatar alguém, retirar um documento molhado, um álbum de fotos de uma família que chorava ao ver suas memórias escorrendo pela correnteza das águas. Fez-se tantas “cocorinhas”, “negativas” e “rolês”, passando entre destroços, desviando dos cachorros, gatos e até cavalos assustados, bem como das viaturas, tratores, botes e lanchas que corriam e navegavam enlouquecidos pela região. Nunca derrubou-se tantas adversidades, nunca se deu tantas rasteiras na fome.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Portanto busca-se através deste relato de experiência compartilhar as percepções, lutas, resistências e transformações que se tiveram e se manifestaram além de uma Roda de Capoeira, mas na Roda da Vida, em um período catastrófico ocorrido no Rio Grande do Sul. E, ao contrário daquilo que se possa imaginar nunca se jogou tanta Capoeira.
Palavras-chave: Rasteira; Fome; Capoeira; Enchente; Rio Grande do Sul
REFERÊNCIAS
CASA MILITAR DEFESA CIVIL RS. rs.gov.br, 2024. Versão pública do sistema de mapeamento de áreas atingidas pelas enchentes é lançada. Disponível em: https://www.defesacivil.rs.gov.br/versao-publica-do-sistema-de-mapeamento-de-areas-atingidas-pelas-enchentes-e-lancada. Acesso em: 09 ago 2024.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. gov.br, 2024. Desenvolvimento social. 876 mil pessoas foram diretamente atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/15183-876-mil-pessoas-foram-diretamente-atingidas-pelas-enchentes-no-rio-grande-do-sul#:~:text=Um%20estudo%20in%C3%A9dito%20divulgado%20pelo,em%20estado%20de%20calamidade%20ou. Acesso em: 09 ago 2024.
MTST. MTST, 2024. Cozinha Solidária: uma resposta vital às enchentes no Rio Grande do Sul. Disponível em: https://mtst.org/noticias/cozinha-solidaria-uma-resposta-vital-as-enchentes-no-rio-grande-do-sul/#:~:text=Desde%20o%20come%C3%A7o%20das%20enchentes,enviados%20%C3%A0s%20v%C3%ADtimas%20das%20enchentes. Acesso em: 09 ago 2024.
RESUMO DO RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A INTRODUÇÃO DO
PROJETO: GINGA APAE UM MOVIMENTO PARA TODOS – PRÁTICAS CORPORAIS E MUSICALIDADE DA CAPOEIRA
PESSOA, Kátia de Almeida; LEITE, Kelly de Almeida
APAE de Balneário Camboriú – SC/ Grupo Muzenza de Capoeira
INTRODUÇÃO: A Capoeira é tida como uma manifestação cultural multifacetada. Campos (2009) construiu a definição do que é a Capoeira orientado pelos depoimentos de diversos mestres de Capoeira e como resultado aponta que a Capoeira é:
“Normalmente, esses mestres falam da Capoeira como uma arte, poesia, luta, folclore, expressão corporal, harmonia, equilíbrio, espiritualidade, emoção, jogo de cintura, liberdade, enfim, muitos predicados que repercutem no modo de vida de cada um deles.” (CAMPOS, 2009, p. 36). A Capoeira é tida como símbolo de resistência e liberdade dentro do contexto de escravização no Brasil, e atualmente a prática da Capoeira conquistou diferentes espaços como teatros, praças, academias, escolas e universidades, ampliando seu número de praticantes afirmam Teixeira e Mota (2018). Para Cuquetto e Estigarribia (2021, p. 14) “a Capoeira manifesta-se como jogo, como luta e como dança, porém sem assumir efetivamente nenhuma dessas características de forma isolada, mas sendo todas ao mesmo tempo.” Ele defende, portanto, que a prática pode ser explorada tanto na educação escolar, como na música, ritual, a expressão, a harmonia e a pluralidade de manifestações corporais e culturais. Diante desse contexto de pluralidade que a Capoeira possibilita para os praticantes, trazê-la como opção de atividade física para as pessoas com deficiência pode ser motivador e envolvente para estes, visto que a prática de atividades físicas para as pessoas com deficiências tem grande importância devido as suas comorbidades, alguns apresentando deficiências motoras, hipotonias, distrofias e atrofias musculares, deficiência intelectual e entre outras. Para Lehnhard, Manta e Palma (2012) a participação de alunos com deficiência física nas aulas de Educação Física é viabilizada por pequenas adaptações, o que possibilita interações inclusivas, independentemente das limitações do aluno. Para Pereira (2007) a Capoeira pode ser considerada uma atividade física completa e também traz a importância pedagógica da Capoeira, atuando maneira direta e indireta sobre o aspecto cognitivo, afetivo e motor do ser humano. “Articula atividades de desenvolvimento visomotor com desenvolvimento artístico-social” (p.17). Dessa forma abordando a possibilidade do indivíduo aprimorar o equilíbrio físico e mental e também a disciplina. Para Silva (2015) a capoeira inclusiva é um importante instrumento que contribui nas propostas pedagógicas que visam atender pessoas com deficiência intelectual, pois a partir do simples movimento, da musicalidade, dos instrumentos de percussão, dentre outros recursos utilizados na Capoeira é possível atender as reais necessidades deste público.
A Capoeira adaptada a pessoas com deficiência não se diferencia da Capoeira em seus conteúdos, e isso vale para a Educação Física em geral, mas compreende técnicas, métodos e formas de organização que possam ser aplicados ao indivíduo com deficiência (NEVES e FRASSON, 2003). Os educandos da APAE ao longo de suas vidas perdem as suas funcionalidades principalmente fisiológicas, entre elas aquelas associadas a deficiência e a flexibilidade, perda de tônus muscular, força, coordenação motora, habilidades motoras simples como abrir uma torneira ou pegar um copo, necessitando de estímulos constantes para garantir menos impacto dessas perdas. Bracht (2020) explora como as práticas corporais, como a Capoeira, podem contribuir para a manutenção e recuperação dessas capacidades motoras e fisiológicas, especialmente quando adaptadas. A prática da Capoeira vem trazendo todo um conjunto de habilidades em uma única prática, trabalhando cognitivo, capacidades motoras amplas, equilíbrio, lateralidade, ritmos, o lúdico e o social afirmam Columá e Chaves (2017). Diante desse contexto o projeto Ginga APAE foi iniciado em agosto de 2024, com o intuito de atender os educandos da APAE de Balneário Camboriú, a partir da necessidade de trazer uma atividade que contribuísse para a funcionalidade dos educandos, trabalhando dessa forma também para atender as ações propostas na política de Educação Especial do estado de Santa Catarina de acordo as Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especializados em Educação Especial (Santa Catarina, 2020). As APAEs trabalham com a abordagem do Currículo Funcional Natural (CFN), definido por LeBlanc (1992) como um currículo que busca trazer mais autonomia para o educando, focado no ensino de habilidades, que o tornam mais independente e produtivo e consequentemente mais socialmente aceito. Centrado no que está acontecendo no momento presente e naquilo que faz sentido para o educando, o CFN focaliza no que é natural para o educando. Diante disso a prática da Capoeira deve contribuir para ampliar o universo das habilidades desses educandos e contribuindo para o desenvolvimento de novas habilidade dentro do CFN, tornando-a funcional, participativa, social e feliz. A funcionalidade de uma pessoa com deficiência está ligada à sua capacidade de participar da sociedade de forma plena e efetiva, em igualdade de condições com as demais pessoas, conforme de define a Organização Mundial da Saúde (OMS): Tomando esse modelo por referência, a funcionalidade humana pode ser definida como o resultado da interação entre as funções e as estruturas do corpo, as atividades e a participação social, e os fatores ambientais que podem atuar como facilitadores ou barreiras para o desempenho dessas atividades e da participação. (SANTA CATARINA, 2020, P.134, apud OMS, 2003). As APAEs são uma sociedade civil, filantrópica, de natureza cultural, educacional e assistencial, denominada APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Atualmente o Estado de Santa Catarina conta com a Federação das APAEs do Estado de Santa Catarina – FEAPAES -SC, está denominada uma entidade de assessoramento de assistência social, beneficiando atualmente 197 APAEs e 02 congêneres filiadas do Estado de Santa Catarina, organizações que juntas somam mais de 20 mil alunos e pessoas diretamente. A APAE de Balneário Camboriú atua de forma interdisciplinar, voltando suas ações para promover a garantia de diretos das pessoas com deficiência, salientando que o público-alvo da instituição é, na maioria, pessoas com deficiência múltipla, ou seja, pessoas com deficiência intelectual associadas a outras deficiências (física ou sensorial), transtornos do espectro autista, síndromes e até comorbidades. Portanto, neste artigo abordará um relato de experiência, como metodologia qualitativa descritiva de acordo com Gil (1991). Com o objetivo de apontar como se deu a introdução do Projeto Ginga APAE, que tem por objetivo desenvolver a funcionalidade dos educandos atendidos através da prática da Capoeira, o projeto atende os educandos da APAE de Balneário Camboriú, especificamente com idade a partir de 18 anos atendidos pelo SAE – Serviço de Atendimento Específico I, II, III, IV; SC – Serviço de Convivência, PROEP -Programa de Educação Profissional, Programa de Atividades Laborais-PROAL, iniciado no mês de agosto de 2024.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O projeto Ginga APAE foi iniciado em agosto de 2024, com o intuito de atender os educandos da APAE de Balneário Camboriú, a partir da necessidade de trazer uma atividade que contribuísse para a funcionalidade dos educandos. Com isso os professores envolvidos nas práticas pedagógicas de Educação Físicas e Música, mais especificamente a fanfarra, voltaram seu olhar para a prática da Capoeira, apresentando o projeto para os educandos e dando a liberdade de escolha para a participação nas aulas. A execução do projeto se deu na divisão em duas propostas de atendimento, primeiramente nas aulas práticas trabalhando a Capoeira adaptada, com a Professora de Educação Física e Capoeirista Kátia de Almeida Pessoa e com a Professora de Educação Física Larissa que ainda não praticava Capoeira, estando no projeto como aprendiz da prática e também profissional de Educação Física dando suporte nas aulas. As aulas práticas aconteceram uma vez por semana a cada período (vespertino e matutino) com o objetivo de trazer para os educandos a história da Capoeira, a história do Grupo Muzenza de Capoeira e também os principais movimentos, ou seja, a ginga principalmente, as esquivas e os chutes. No segundo momento aconteceu a Roda de Capoeira, um evento quinzenal em conjunto com o Professor de Música Luciano Candemil, esse momento da Roda de Capoeira envolveu um grande grupo que também faz parte da fanfarra da instituição. O Professor Luciano relata que aproveitou esse contexto da Capoeira, onde os educandos já estão inseridos, através dos treinos, portanto mais engajados e fez uma adaptação para os instrumentos da fanfarra, tendo a Capoeira como inspiração. Ele conta que fez uso da técnica de onomatopeia solfejada na adaptação ritmos de tradições populares, como a batucada de rua, onde estão inseridos jongo e a Capoeira, por exemplo, e trabalhar na fanfarra da APAE e vê de forma positiva esse momento da Roda de Capoeira para trabalhar o processo de ensino e aprendizagem de batucada de rua. Um ponto interessante visualizado pelas professoras envolvidas nas aulas práticas foi a empolgação dos educandos pelo momento da Roda de Capoeira. Eles sabiam que nesse momento eles poderiam colocar em prática os movimentos que aprenderam nas aulas. Ou fator que também trouxe maior engajamento para as aulas práticas foi a musicalidade, pois a todo momento as aulas de Capoeira contam com música, favorecendo a participação de todos. A Capoeira foi adaptada no dia a dia, pois diante de cada obstáculo individual, a professora procurava adaptar o momento diante do que o educando conseguia, sem deixar de ser um movimento desafiador para ele. Essa condução foi possível pois os profissionais envolvidos já conheciam as potencialidades e as limitações dos educandos, e puderam conduzir esse aprendizado afim de gerar motivação e autoconfiança e ainda contribuir para a funcionalidade do indivíduo. A Professora Larissa Aparecida Martins de Oliveira relatou que foi através da introdução do Projeto Ginga APAE que teve o primeiro contato com a prática da Capoeira e diz ainda que foi observando o esforço dos educandos nas aulas que aprendeu a gostar da Capoeira. Ela percebeu que o momento da Roda é o mais aguardado. Ela conta que é um momento de muita aprendizagem, pois apesar das dificuldades os educandos “não desistem e cada um consegue fazer do seu jeitinho”. Nas barreiras encontradas na introdução do Projeto Ginca APAE destaca-se o sedentarismo dos educandos, principalmente após o período de pandemia, uma parte deles se manteve sedentário ou ainda sem realizar atividades físicas que necessitam de um esforço prolongado. Diante desse contexto, a professora necessitou também trabalhar de modo que aos poucos os educandos fossem ganhando mais resistência para aulas mais extensas; apesar disso todos participaram. A Professora Kátia de Almeida Pessoa conta que procura trabalhar as aulas com ritmo constante, exigindo controle da energia e respiração ao longo da aula. Diante das necessidades individuais foi apontado também como opção para aqueles educandos mais resistentes a aulas práticas, a participação na musicalidade voltando para o aprendizado do ritmo e cadência, das palmas, bem como para o uso dos instrumentos musicais. Nesses casos em que os educandos não apresentaram interesse na parte de movimentação, apenas nos instrumentos, foi visto como um ponto de acesso para integrar o educando ao grupo e aos poucos fazer com que seu engajamento com a movimentação aconteça pelo seu interesse musical, ao longo do projeto. As aulas foram iniciadas falando da história da Capoeira e do Grupo Muzenza de Capoeira, em todas as aulas, de maneira a contribuir para a fixação. No segundo momento são tocadas músicas de Capoeira, forma mecânica com auxílio de caixa de som. Geralmente os educandos se organizavam de maneira independente, porém era necessário o auxílio das professoras para que a distância fosse adequada, evitando acidentes. Depois de organizados, acontecia o alongamento, aquecimento e inicia-se com a ginga. Todos gingam, de acordo com a sua possibilidade, todos se envolviam nesse momento e apenas paravam caso estejam apresentando muito cansaço. A Professora Kátia destaca que com a Capoeira foi possível trabalhar o desenvolvimento dos educandos de forma global e que a música tem um potencial extremamente relevante para eles, ou seja, envolve e desenvolve. Ela também aponta que a cada aula trabalha na fixação dos nomes dos movimentos apresentados nas aulas e como todo o envolvimento dos educandos contribui para a socialização de modo geral. No final de cada aula realiza uma roda e explica como sair para jogo e todos fazem os jogos em pares, o grito de guerra e o cumprimento do Grupo Muzenza de Capoeira também é uma ferramenta pedagógica que contribui para gerar senso de pertencimento de grupo, contribuindo para o engajamento com a Capoeira. Os educandos participam de outras atividades na instituição durante a semana e sempre que encontravam as professoras perguntavam quando teria Capoeira, desde a primeira aula mostraram-se motivados, o que foi motivo de grande alegria para os profissionais envolvidos no projeto. No decorrer do projeto foi possível perceber que nas palmas alguns apresentam habilidade no ritmo de São Bento Grande da Regional, marcado pelo uso de três palmas, já no ritmo de São Bento Pequeno, marcado por duas palmas os educandos apresentam mais dificuldade, é comum também na Roda de Capoeira alguns saírem do ritmo nos instrumentos e acabarem tocando outro ritmo, geralmente aqueles já ensaiados na fanfarra. Apesar disso, pode-se afirmar que a introdução do projeto Ginga APAE foi muito positiva, pois além de atender as necessidades físicas e sociais dos educandos também está trabalhando a cultura brasileira. Na primeira roda realizada em outubro de 2024 já foi possível perceber o avanço dos educandos, pois a professora observou que os educando já compreendiam o processo de “compra de jogo”. Nesse momento da grande roda quinzenal uma dificuldade encontrada é alinhar o ritmo da Capoeira, pois como os educandos também trabalham música na fanfarra, acabam trazendo esse ritmo durante a roda. Isso está sendo trabalhado realizando uma aula isolada de música com o ritmo de referência, ou seja, trabalhando o ritmo da Capoeira nos instrumentos da fanfarra de forma adaptada, conforme relatado pelo Professor Luciano Candemil. Portanto, os profissionais envolvidos relatam que está sendo gratificante, pois apesar do projeto estar no começo, conseguem ver evolução dos educandos e como o sentimento de pertencimento contribuem para que se sintam incluídos, observado no envolvimento e na empolgação dos educandos participantes do projeto Ginga APAE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante do que foi apresentado é visto que a continuidade do projeto poderá trazer diversos benefícios no longo prazo, tanto no objetivo principal que é trabalhar a funcionalidade dos educandos e a prática de atividade física regular, bem como para a inclusão desses educando no universo da Capoeira e das tradições populares, contribuindo para a socialização dos educandos além das paredes da instituição. A introdução do projeto Ginca APAE mostrou resultados positivos, apesar do tempo curto de observação, ou seja, a Capoeira pode ser utilizada como ferramenta de desenvolvimento funcional, e ainda elo entre as práticas de atividade física, trabalhada em conjunto com os Profissionais de Educação Física e com a música, trabalhada com o apoio do Professor de Música. Perante as informações relatadas conclui-se que o engajamento nas aulas favoreceu com que os alunos estivem mais motivados a realizar atividades físicas. Foi possível observar que o engajamento foi favorecido por dois fatores a musicalidade e a roda de Capoeira. A afinidade com a música e principalmente com os instrumentos através da fanfarra contribuiu para que os educandos tivessem vontade de participar do projeto Ginga APAE, o trabalho que o professor de música desempenhou foi de grande valia para fazer essa aproximação, trazendo os toques da Capoeira com o uso dos instrumentos da fanfarra e dessa forma buscando familiarizar os educandos com a prática de Capoeira com os meios que já eram do convívio dos educandos. A Roda de Capoeira foi um momento de integração e foi um marco para os educandos mostrarem seu desenvolvimento nas aulas de Capoeira, bem como também aprender organizar a roda, como momentos de compra de jogo, ritmo das palmas, volta ao mundo. E ainda, em um próximo passo, poderá servir como um momento dos educandos participarem de eventos tanto no universo da Capoeiragem como nos eventos da área do Esporte, da Educação e da Cultura. Os desafios nesse movimento de introdução de projeto foi trabalhar a Capoeira com embasamento, o que foi contornado sempre o auxílio do Professor de Capoeira Jairo Vargas Leite (Professor Musse) e também com a supervisão do Mestre em Educação e Mestre de Capoeira Carlos José Silva (Mestre Tigre). Outra questão também foi em relação aos instrumentos, que foram utilizados os do Professor de Música e também do Professor Musse. Salientamos que maiores resultados só serão possíveis de observar no longo prazo, diante disso o presente relato serviu para explicitar as potencialidades do projeto Ginca APAE, servindo de registro e também de um instrumento que pode servir para as futuras intervenções dentro do próprio projeto Ginga APAE ou também para os profissionais que desejarem trabalhar a Capoeira com pessoas com deficiência. Serve também para que a própria instituição APAE de Balneário Camboriú tenha material acadêmico que aponte os fatores que contribuem para projeto Ginga APAE como trazê-lo de forma definitiva nas opções de atividades físicas para os educandos.
REFERÊNCIAS
BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Porto Alegre, v. 22, n. 1, 2. p. 53-63, set. 2000. <Disponível em: http://www.revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/753/427> Acesso em: 20out2024 CAMPOS, H. Capoeira Regional : a escola de Mestre Bimba – Salvador : EDUFBA, 2009.
COLUMA, J.F.; CHAVES, S. F. Capoeira e psicomotricidade: Brincando e aprendendo a jogar. Petrópolis: Vozes, 2017.
CUQUETTO, D. C. ESTIGARRIBIA, M. I. C. A capoeira adaptada como alternativa de melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiência: desafios e possibilidades. – Vitória, ES : Edifes, 2021.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991.
LEBLANC, J. M. El Curriculum Funcional em la educación de la persona com retardo mental. Trabalho apresentado na ASPANDEM, Mallagra. España, 1992. Tradução: ALMEIDA, M. A.; BOUERI, I.Z LEHNHARD, G. R; MANTA S.W ; PALMA L.E. A prática de atividade física na história de vida de pessoas com deficiência física –Maringá, PR: Rev. Educ. Fís/UEM, v. 23, n. 1, p. 45-56, 1. trim. 2012. < Disponível em: https://www.scielo.br/j/refuem/a/PBxRgtfTdX73PFqqkFfhCcw/?lang=pt&format=pdf> acesso em 22out2024.
NEVES, G. N.; FRASSON, A. C. Educação Física adaptada ao deficiente visual. In: SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS DO SUL DO BRASIL, 15., Ponta Grossa, 2003. Anais… Jundiaí: Fontoura, 2003. p. 291-291. <Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/artigo s/Educacao_Fisica_adaptada.pdf >acesso em 22out2024.
PEREIRA R.R. A contribuição da capoeira adaptada na melhoria de aspectos sociais em pessoas portadoras de necessidades especiais [Dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco; 2007. < Disponível em: https://www.livrosgratis.com.br/ler-livro-online78044/a-contribuicao-da-capoeira-adaptada-na-melhoria-de-aspectos-sociais-em-pessoasportadoras-de-necessidades-especiais> acesso em: 22out2024.
SANTA CATARINA. Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE). Diretrizes dos centros de atendimento educacional especializados em educaçã especial [livro eletrônico] / Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE). – São José/SC :
FCEE, 2020 <Disponível em: http://www.fcee.sc.gov.br/downloads/informacoes/1274-diretri- zes-dos-centros-de-atendimento-educacional-especializados-em-educacao-espe- cial-do-estado-de-santa-catarina-2020> acesso em 20out2024.
SILVA, MJS. Análise da prática docente na capoeira inclusiva para deficientes intelectuais no centro AEE – Hallef Pinheiros Vasconcelos no município de Breves – Marajó – Pará – Brasil [Dissertação]. Lisboa: Escola Superior de Educação Almeida Garret; 2015.<Disponível em: https://recil.ulusofona.pt/items/b7b222ca-22d8-41a6-b529-c82789fce499/full> acesso em 22out2024.
TEIXEIRA, B. V.; MOTA, C. G. A prática da Capoeira por pessoas com síndrome de Down: uma revisão da literatura. Acta Fisiatr. 2018, p. 40-45. < Disponível em: https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/158836/153885> acesso em 20out2024.
COMO A MÚSICA ACONTECE DENTRO DE MIM?
OLIVEIRA, Fabio Augusto; SILVA, Daiko Lima e
Grupo Muzenza de Capoeira
INTRODUÇÃO: Segundo experiência vivida, a música na capoeira cumpre várias funções e tem grande relevância, entre elas, a de contar histórias, relatar momentos e sugerir situações de roda. Para contar ou cantar histórias é necessário ter vivido estas histórias, seja fisicamente, através de vivências literárias, vídeos, em um mundo de fantasias, sonhos, mensagens, seja com outras formas de viver essas experiências. Cabe à música de capoeira descrever o contexto histórico de tempos passados e atuais. No que tange ao passado, as histórias de sofrimento dão a importância de muitas conquistas, evoluções e superações, enquanto no presente ilustra as várias formas de ser capoeirista.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Com 49 anos de idade e 30 de capoeira, são 26 anos de música, três CDs lançados antes de ser do Grupo Muzenza de Capoeira. Hoje (2025) são 108 músicas de composição própria e registradas no Escritório de Direitos Autorais (EDA). Além destas, pelo menos mais 100 músicas em processo de finalização ou registro, algumas delas já premiadas e consagradas no mundo da capoeira, como “Vou ver meu mestre”, do CD Muzenza “Negro que veio de Angola” (2014, v. 24); “Serei sempre uma volta inteira”, do CD Queixo – Canta aê (2021, v. 1); “Minha canoa virou”, do CD Queixo – Canta aê (2022, v. 2); “Prato da baiana”, do CD Muzenza “Quanto mais velho melhor” (2023, v. 28); “Capoeira contagiante”, do CD Muzenza a ser lançado em 2025, entre outras. Já iniciamos apaixonados pelas cantigas de roda, com isso ouvimos muitos Mestres, Contramestres, educadores e estudiosos da capoeira, não apenas contando, mas também cantando suas histórias. Sobretudo é importante lembrar que aprendemos muito com os mais novos, falamos desta nova geração de capoeiristas que estudam, questionam e dão um novo momento para a capoeira. Aprendemos também com os “ignorantes” da capoeira e com os contrários a ela, estes nos trouxeram uma gama de conhecimentos muito importante para cantar e encantar os ouvintes mais críticos deste universo, que se chama músicas de capoeira. Logo no início das composições (19 anos de idade), nos demos conta que as pessoas se identificam muito mais com os textos (estrofes, versos e refrãos) que mencionam histórias positivas do que as negativas. Por exemplo, uma música que inicialmente trazia uma história “negativa” com a frase “Há muito tempo jogávamos juntos, quando terminava era tão legal, hoje não se pode ver na roda, e quem dirá no pé do berimbau”, tornou-se “Há muito tempo jogávamos juntos, quando terminava era tão legal, depois do jogo se abraçar na roda e apertar a mão ao pé do berimbau” (Muzenza, “Um cantador de roda”, 2024, v. 30). Em formato de vivência, apresentamos a seguir as técnicas de composição: 1) Usar palavras e termos positivos: As pessoas preferem escutar palavras e situações positivas ao invés das negativas; 2) Usar palavras que o público se identifique, para isso é necessário entender qual é o seu público e qual deseja atingir; 3) Usar versos curtos nas cantigas, pois as pessoas tendem a cantar as músicas mais fáceis, considerando que as mais curtas são melhores para aprender a cantar; 4) Ter coesão: As músicas, como “qualquer” outro texto, precisam ter coesão. Uma boa base é ter início, meio e fim, além de todas as palavras tratarem do mesmo assunto ou estarem ligadas com muita proximidade; 5) Não difamar a imagem de outras modalidades e nem de outros grupos: Seguindo o princípio da primeira dica “ser positivo”, dê preferência em falar (cantar) suas qualidades do que as “imperfeições” dos outros; 6) Ter atenção à lei de direitos autorais: Podemos facilmente burlar a lei do plágio, porém, o conceito dos capoeiristas não, já que a recomendação é buscar além de ideias e temas, outros ritmos e melodias em diferentes segmentos musicais; 7) Usar uma ou mais técnicas de rimas: As mais frequentes são as de 4 versos, rimando a última palavra do 1º verso com a última palavra do 3º verso, e a última palavra do 2º verso com a última palavra do 4º verso; 8) Levar ao público como forma de avaliar a aceitação: A música toma suas formas finais nas rodas informais, pois é lá que a “mágica” acontece e, muitas vezes, a música se transforma na boca do povo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: É de importância vital que as músicas de roda transmitam as mais diversas maneiras de expressar nossa arte.
REFERÊNCIAS
MUZENZA. [Compositor e intérprete]: Capoeira Muzenza. Curitiba, PR, 2025.
NEGRO QUE VEIO DE ANGOLA. [Compositor e intérprete]: Capoeira Muzenza. Curitiba, PR, 2014. 1 CD. v. 24.
QUANTO MAIS VELHO MELHOR. [Compositor e intérprete]: Capoeira Muzenza. Curitiba, PR, 2023. 1 CD. v. 28.
QUEIXO – CANTA AÊ. [Compositor e intérprete]: Capoeira Muzenza. Curitiba, PR, 2021. 1 CD. v. 1.
QUEIXO – CANTA AÊ. [Compositor e intérprete]: Capoeira Muzenza. Curitiba, PR, 2022. v. 2.
A ORIGEM FEMININA DO BERIMBAU
FIGUERÔA, Katiuscia Mello
Grupo Muzenza de Capoeira
Este relato de experiência é resultado do processo de construção de uma proposta de intervenção no âmbito de um projeto de extensão universitária idealizado e realizado pela autora para cumprir a carga horária referente a atividades práticas aplicadas obrigatórias do curso de Licenciatura em Artes Visuais, no ano de 2024. Para o projeto em questão, determinava-se que o tema tivesse como pilar algum(ns) dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para o milênio, definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um acordo global a serem atingidos até o ano de 2030 por cada país signatário (ONU, 2015). Para a proposta que será abordada neste relato, desenvolvida no Ponto de Cultura Muzenza Santa Felicidade – Mestre Feijão (Curitiba – PR) e intitulada de “A origem feminina do berimbau: lendas em HQ”, identificou-se um problema relacionado ao fato de as meninas perceberem que a história da Capoeira está muito ligada ao mundo masculino, inclusive com a maioria das suas referências serem homens. Assim, o objetivo do projeto foi contribuir para que as meninas de uma turma infantil de Capoeira se sintam mais representadas e pertencentes ao contexto dessa manifestação cultural, assim como conscientizar os meninos da turma sobre a temática em questão a partir da contação de lendas referentes à origem do berimbau, instrumento considerado como símbolo da Capoeira, e da criação, por parte dos alunos, de uma História em Quadrinhos (HQ) baseada em uma das lendas. Como objetivos específicos, foram delimitados: conscientizar os alunos de uma turma infantil de Capoeira sobre a importância da mulher na sociedade a partir de um contexto familiar para eles – a Capoeira; promover um espaço para que resignifiquem um contexto ao que estão acostumadas a partir da expressão em forma de desenho; oportunizar a coeducação a partir da arte. Para alcançar os objetivos propostos, foram escolhidos como base para o projeto os ODS 4 – educação de qualidade, e 5 – igualdade de gênero. A utilização desses dois ODS se justifica pela necessidade de fazer com que meninas comecem, desde pequenas, e a partir de uma educação de qualidade, ainda que em ambientes não formais de educação, a se sentirem representadas e pertencentes à sociedade em que estão inseridas de forma equânime. Da mesma forma, entende-se que essa conscientização tem de ser feita também com os meninos, para que cresçam respeitando meninas e mulheres, tratando-as como iguais e compreendendo como identificar e combater situações de preconceito e machismo. No que se refere ao ODS 4, destaca-se a necessidade de se eliminar as desigualdades de gênero e raça na educação, reconhecendo a “importância de se investir também no que se chama de educação não-formal para garantir a aprendizagem ao longo da vida” (VARGAS, 2019, p. 83) e com base no fato de que “o ODS 4 e suas metas expressam um modelo no qual a educação, em todas as formas, tem o poder de influenciar as escolhas das pessoas para criar sociedades mais justas, inclusivas e sustentáveis” (UNESCO, 2016, p. 7). Quanto ao ODS 5, temos que “[…] as experiências de homens, mulheres, meninos e meninas tendem a ser substancialmente influenciadas pelos papéis de gênero que lhes são conferidos pela sociedade” (GIANNINI, 2019, p. 96) e, por isso, é importante desenvolver atividades como a proposta neste projeto. Quanto ao detalhamento da metodologia, temos que a intervenção foi realizada em junho de 2024, em uma sessão/aula de Capoeira do citado Ponto de Cultura e com um público de 20 crianças de 6 a 12 anos. A programação das atividades foi: chegada das crianças no espaço, acolhimento e explicação das atividades; contação das lendas da criação do berimbau e roda de conversa; tempo para produção das crianças, com finalização em casa; exposição dos quadrinhos em data posterior. Após pesquisa, optou-se por duas lendas que são mais referenciadas em diferentes materiais e sites. Vale destacar que as lendas são histórias criadas para dar explicações a eventos conhecidos e desconhecidos, geralmente transmitidas pela oralidade e que têm um papel significativo nas diversas culturas, pois ensinam valores e conhecimentos, moldam identidades individuais e coletivas, preservam memórias e têm potencial pedagógico na educação contemporânea (SAGÁRIO, 2024), principalmente quando se trata de crianças, devido aos seus aspectos lúdicos e à estimulação da imaginação. Antes de se iniciar a contação das lendas, as crianças foram instigadas a dialogar sobre o que conheciam com relação ao berimbau – sua história, origem, importância, estrutura etc. Após a exposição das lendas, foi realizada uma roda de conversa sobre as percepções e opiniões das crianças sobre o que ouviram e sobre os pontos comuns entre as lendas. O destaque em suas falas foi o esperado: que as duas lendas envolviam mulheres na origem do instrumento. Na sequência, as crianças foram motivadas a iniciar os esboços dos seus HQs utilizando papel e lápis (grafite e de cor) para que não se esquecessem dos detalhes das narrativas até poderem finalizar seus desenhos em casa. A experiência demonstrou que utilizar elementos das artes visuais, como a produção de HQs, para o ensino da Capoeira pode representar uma motivação diferente e enriquecedora para o ensino de crianças, seja qual for a temática, pois instiga a curiosidade, o diálogo, a imaginação e o aprendizado ocorre de forma orgânica e significativa, pois os alunos se sentem parte da construção do conhecimento naquele determinado contexto do qual fazem parte e, portanto, de seu interesse, estabelecendo conexões, reorganizando e ampliando conceitos já conhecidos por eles (AUSUBEL, 2002). Além disso, a estratégia, que contraria modelagens educativas mais tradicionais, possibilitou a abordagem da temática de gênero com o público infantil de forma adequada à faixa etária, criativa, leve e eficaz, considerando que as crianças compreenderam, a partir da proposta, que a origem do instrumento que é símbolo da Capoeira envolve a mulher.
Palavras-chave: Berimbau; Mulher; Artes visuais
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D. P. Adquisición y retención del conocimiento: una perspectiva
cognitiva. Buenos Aires: Paidós, 2002.
GIANNINI, R. A. ODS 5 “Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas sustentável”. In: MENEZES, H. Z. de. (Org). Os objetivos de desenvolvimento sustentável e as relações internacionais. João Pessoa: Editora UFPB, 2019. p. 95-115.
ONU. Organização das Nações Unidas. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. ONU, online. 2015. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wpcontent/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf. Acesso em: 10 dez. 2024.
SAGÁRIO, M. C. A influência das lendas e mitos para a cultura atual e a educação. RCMOS – Revista Científica Multidisciplinar O Saber, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 1-11, 2024.
UNESCO. Sustainable Development Begins with Education: How Education Can Contribute to the Proposed Post-2015 Goals. Global Education Monitoring Report. Paris: UNESCO, 2016.
VARGAS, M. ODS 4 “Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos”. In: MENEZES, H. Z. de. (Org). Os objetivos de desenvolvimento sustentável e as relações internacionais. João Pessoa: Editora UFPB, 2019. p. 79-94.
A CAPOEIRA DO CEARÁ – FRAGMENTOS DE UMA HISTÓRIA
FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS DO GRUPO MUZENZA NO CEARÁ:
RELATOS SOBRE A PRODUÇÃO DE UM LIVRO
NETO, José Olímpio Ferreira;
ALBUQUERQUE, Gerson Pedro de; ARAÚJO, Elvis Silveira de
INTRODUÇÃO: O presente relato de experiência traz fragmentos da construção de um projeto de pesquisa que buscou registrar as memórias da Capoeira Cearense em um livro alusivo à comemoração dos 30 anos do Grupo Muzenza de Capoeira no Ceará. Essa iniciativa foi desenvolvida a partir do Programa Café Muzenza. Conforme Ferreira Neto, Albuquerque e Araújo (2024), o grupo chega ao Ceará na década de 1990, a partir de ações e eventos do Mestre Aloísio Ceará, Mestre Madona e Mestre Pedro. Além deles, vários de seus discípulos, entre homens e mulheres, contribuíram para escrever a história desse grupo em terras alencarinas. A justificativa pessoal se fundamenta na trajetória de dois dos signatários da pesquisa, integrantes do grupo em busca das memórias de capoeiristas que os precederam e que se cruzam com suas histórias de vidas, seguindo a esteira de Ferreira Neto (2012), que buscou fragmentos de memórias dos capoeiristas que o influenciaram. Além disso, é possível refletir sobre os produtos da Muzenza e a formação de capoeiristas de várias gerações, com base no conceito de indústria cultural a partir de Adorno e Horkheimer (1985). A justificativa social e política se assenta no fato da produção colaborar para a salvaguarda da Capoeira do Ceará, pois traz em seu bojo resquícios das memórias e identidade dos capoeiristas cearenses, efetivando, assim, na perspectiva de Cunha Filho (2018), os direitos culturais. A justificativa pedagógica e acadêmica se pauta pelo uso dos produtos oriundos dessa ação serem possíveis fontes para o ensino e pesquisa da Capoeira.
OBJETIVOS: O objetivo geral do presente trabalho foi relatar a experiência de pesquisa do Programa Café Muzenza, que teve como principal produto final, um livro com as memórias da Capoeira Cearense. Entre os seus objetivos específicos, estão os seguintes: refletir criticamente sobre os suportes de fluxo de saberes produzidos pelo Grupo Muzenza de Capoeira, tais como livros, revistas, LPs, CDs, DVDs entre outros; registrar narrativas e memórias por meio da oralidade sobre o Grupo Muzenza de Capoeira no Ceará; e por fim, apresentar os produtos finais do projeto Capoeira do Ceará: fragmentos de uma história.
METODOLOGIA: Essa pesquisa de natureza qualitativa, foi embasada metodologicamente em Campos (2022) e percorre veredas etnográficas, pois seus signatários estão inseridos na prática da Capoeira há mais de 25 anos. Para o registro das narrativas foram realizados dez encontros, por meio do Google Meet, com a participação dos sujeitos que compõem as memórias do Grupo Muzenza de Capoeira no Ceará. Em cada encontro, os três autores do presente escrito, elaboraram perguntas prévias para os(as) convidados(as). As respostas foram analisadas e em seguidas dispostas em um livro com narrativas, construindo uma cronologia de acontecimentos. As entrevistas foram disponibilizadas, posteriormente, no YouTube, no perfil do Programa Café Muzenza. As imagens cedidas pelas pessoas entrevistadas foram catalogadas, organizadas e disponibilizadas no site, em forma de museu virtual.
RESULTADOS: Como resultados foram realizados dez encontros, em formato de entrevista, por meio do Google Meet, disponibilizados, posteriormente, para livre e gratuito acesso na plataforma de vídeos do YouTube. É possível afirmar que o livro produzido é um suporte de memórias e histórias que garante às presentes e futuras gerações acesso às narrativas das personagens da Capoeira Alencarina. Além disso, há um museu virtual com imagens disponibilizadas pelos entrevistados(as) que podem ser acessados livremente no site do Café Muzenza. O livro, o site e os programas estão na esteira do que o Grupo Muzenza de Capoeira realizou, por iniciativa do Me. Burguês, ao longo da trajetória. Esses produtos da indústria cultural foram fundamentais para a disseminação de conhecimentos e saberes inerentes à Capoeira no mundo.
CONCLUSÃO: Durante o desenvolvimento da pesquisa foi possível observar que as ferramentas utilizadas possibilitaram o acesso democratizado às memórias, garantindo às presentes e futuras gerações, o exercício dos direitos culturais. Os vários suportes que garantiram o fluxo dos saberes e conhecimentos na prática da Capoeira se reinventam para garantir a salvaguarda das memórias e histórias. O Grupo Muzenza de Capoeira foi inspiração para muitos capoeiristas ao longo de sua história, sendo pioneiro no uso de suportes de saberes, tais como livros, revistas, LPs, Cds, VHSs, DVDs etc. Na mesma esteira, seguiu o Café Muzenza com um projeto inovador que reúne as memórias e narrativas dos sujeitos do Grupo Muzenza de Capoeira no Ceará em três suportes, a saber, página no YouTube, site (museu virtual de imagens) e livro, a partir de uma mesma ação. É possível afirmar, então, que o programa e as ações vinculadas são uma forma de salvaguarda da Capoeira do Ceará.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar,1985.
CAMPOS, Hélio. Metodologia Científica: a arte de pesquisar a Capoeira. Salvador: EDUFBA, 2022.
CUNHA FILHO, Francisco Humberto. Teoria dos Direitos Culturais: Fundamentos e Finalidades. São Paulo: Edições SESC São Paulo, 2018.
FERREIRA NETO, José Olímpio; ALBUQUERQUE, Gerson Pedro; ARAÚJO, Elvis Silveira de. Capoeira do Ceará: Fragmentos de uma História. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2024.
FERREIRA NETO, José Olímpio. A história da capoeira no Ceará nas décadas de 1980 e 1990 através da oralidade e memória. Anais do I Encontro Internacional História, Memória, Oralidade e Culturas, Fortaleza, UECE, 2012. Disponível em: https://www.uece.br/eventos/encontrointernacionalmahis/anais/trabalhos_completos/52-5434-26082012-231518.pdf. Acesso em: 14 dez. 2024.
MEMÓRIA E HISTÓRIAS DAS MULHERES CAPOEIRISTAS
SANTANA, Cleonice Moraes de
*Palestra/ Documentário de Encerramento do ENCAMUZENZA 2025
O projeto “Memórias e Histórias das Mulheres Capoeiristas” se destaca como uma iniciativa valiosa e essencial para a preservação e disseminação da rica herança cultural da Capoeira, ao destacar a trajetória das mestras que desempenham papéis fundamentais na formação de capoeiristas em nossa cidade e região. Através de um registro audiovisual documental em formato de curta-metragem, o projeto se propõe a capturar a profundidade e a diversidade da experiência das mulheres capoeiristas, iluminando suas jornadas individuais e compartilhando suas histórias inspiradoras. A Capoeira é uma expressão artística e cultural que abrange não apenas a prática física, mas também a espiritualidade, a tradição e a resiliência das comunidades que a mantêm viva. No entanto, muitas vezes, a contribuição das mulheres para esse universo é subestimada ou invisibilizada. Este projeto traz à tona a importância das mestras, que não apenas dominam a arte da Capoeira, mas também atuam como educadoras, mentoras e modelos a serem seguidos. Ao destacar importantes mestras do nosso cenário regional e nacional, o projeto está resgatando e registrando histórias que de outra forma poderiam se perder com o tempo. Essas mulheres são guardiãs de conhecimentos e experiências que enriquecem nossa compreensão da Capoeira como um todo. Ao capturar suas memórias, o projeto está contribuindo para a construção de um legado cultural que pode ser transmitido para futuras gerações. Além disso, a escolha do formato audiovisual curta-metragem amplifica o impacto do projeto, tornando-o acessível e envolvente para um público diversificado. A linguagem visual permite que as histórias sejam contadas de maneira mais imersiva e emocional, permitindo que o público se conecte às experiências das mestras. Por meio desse projeto, não apenas honramos as mulheres capoeiristas que têm desempenhado papéis significativos em suas comunidades e na evolução da Capoeira, mas também promovemos a equidade de gênero e empoderamos as próximas gerações de capoeiristas, independentemente de seu gênero, ao mostrar exemplos concretos de liderança e realizações femininas no cenário da Capoeira. Assim, o projeto “Memórias e Histórias das Mulheres Capoeiristas” não apenas celebra a importância das mestras, mas também enriquece a compreensão coletiva da Capoeira como uma arte cultural dinâmica e inclusiva, ao mesmo tempo que contribui para a construção de uma sociedade mais consciente e igualitária.