02. A VISÃO DE MUNDO DOS PRATICANTES DE CAPOEIRA
03. COMPETIÇÕES NA CAPOEIRA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
04. RASTEIRA NA FOME: GINGANDO POR UM MUNDO MELHOR
05. ÁRVORE SEM RAIZ NÃO FICA DE PÉ: ACHADOS SOBRE MESTRE ANTONIO CORRÓ
06. BRINCANDO E APRENDENDO CAPOEIRA COM CANTIGAS
08. ORQUESTRA FEMININA DE BERIMBAUS ON-LINE: UMA EXPERIÊNCIA INÉDITA
09. A PSICOMOTRICIDADE APLICADA À CAPOEIRA
10. NEURODIVERSIDADE E CAPOEIRA
11. EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL PARA MULHERES CAPOEIRISTAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
12. A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA DA CAPOEIRA NA LONGEVIDADE DE MULHERES IDOSAS
CAPOEIRA AFINADA: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA, BERIMBAUS E SUAS AFINAÇÕES
KRISTENSEN, Bárbara¹; SANTOS², Gian Carlos Rio dos.
¹ Ecos de Santo Amaro, barbaracanzianikristensen@gmail.com;
² Ecos de Santo Amaro, gianriotatuagens@gmail.com
O presente trabalho constitui-se em um relato de experiência que culminou com a publicação do livro “Capoeira Afinada” (KRISTENSEN; SANTOS, 2020), no ano de 2020, patrocinado pela Fundação Cultural de Navegantes. No ano de 2019, fomos provocados por colegas capoeiristas a materializar o processo do trabalho que desenvolvemos nas aulas de capoeira ocorridas no Espaço Cultural Ecos de Santo Amaro, em Navegantes, Santa Catarina. Embora considerássemos que o trabalho ainda não estivesse pronto, compreendemos que possivelmente nunca estivéssemos satisfeitos o suficiente, motivo pelo qual entendemos que a publicação seria apenas um registro de um processo, ainda em andamento. No curso da produção do livro, percebemos que o trabalho se dividia em três vertentes: o estudo a respeito da musicalidade dos mestres antigos, o estudo da musicalidade de mestras e mestres contemporâneos e uma construção didática desenvolvida nas aulas de capoeira de modo a democratizar o acesso ao conhecimento musical dessa
arte. Sobre essas três vertentes, que compõem essa experiência, explicaremos no próximo item. A primeira das vertentes refere-se ao estudo sobre a musicalidade dos mestres antigos. Diversas vezes nas aulas reunimo-nos para ouvir e analisar as antigas gravações, processo que sistematizamos no primeiro capítulo do livro em questão. Nele, fizemos uma análise de quinze cantigas de nove antigos mestres, buscando entender como foi feita a afinação dos berimbaus e das vozes. Foram analisados: Mestre Cabecinha, Mestre Luciano e Mestre Juvenal, Mestre Bimba (os três registros feitos para Lorenzo Turner em 1940), Mestre Waldemar (gravação para Simone Dreyfus, 1955), Mestre Traíra (Capoeira – Documentos Folclóricos Brasileiros, 1963), Mestre Camafeu de Oxóssi (Berimbaus da Bahia, 1967), Mestre Pastinha (Capoeira Angola – Mestre Pastinha e sua academia, 1969), Mestre Caiçara (Academia de Capoeira de Angola São Jorge dos Irmãos Unidos do Mestre Caiçara, 1969) e Mestre Gato (L’Art du Berimbau, 2001). Como resultado, pudemos perceber que nessas gravações sempre houve consonância (MARTINS, 2015) entre as notas dos berimbaus e do canto, havendo, na maioria das vezes, consonância perfeita entre os berimbaus ou entre o canto e um dos berimbaus (KRISTENSEN; SANTOS, 2020). Na segunda vertente, estudamos a musicalidade de catorze mestras e mestres contemporâneos reconhecidos regional, nacional ou internacionalmente. No livro, registramos como é seu processo de afinação, por que afinam os instrumentos, qual a importância de fazer isso, com quem aprenderam, o que isso representa para eles e elas, buscando salvaguardar esse conhecimento. Foram entrevistados: Mestre Acordeon (EUA), Mestre Brasília (SP), Mestre Cabello (BA), Mestre Careca (SC), Mestra Elma Awa-Guajá (SC), Mestre Esquilo (MG), Mestre Gato Góes (BA), Mestre Negoativo (MG), Mestre Nenel (BA), Mestre Nô (BA), Mestre Pelé da Bomba (BA), Mestre Pop (SC), Mestra Tisza (BA) e Mestre Toni Vargas (RJ). Algumas entrevistas foram feitas pessoalmente entre 2019 e março de 2020 e outras, devido à pandemia, foram feitas por telefone ou reunião virtual. As narrativas de cada um dos participantes foram registradas no livro, compreendidas como frutos do momento exato em que foram colhidas. Como as possibilidades de continuar este trabalho são praticamente infinitas, entendemos que ainda há um universo a ser estudado e cujo conhecimento poderia ser registrado, algo que incentivamos fortemente. A terceira vertente trata a respeito da construção didática que fizemos ao longo dos anos nas aulas de capoeira para trabalhar o que chamamos de “capoeira afinada”. Nessa parte, registramos da maneira mais prática possível contando com o auxílio de videoaulas, estratégias e recursos disponíveis para desenvolver afinação, seja em relação aos berimbaus, ou relação ao canto, e outros aspectos da musicalidade, como relação entre berimbaus e canto, a presença de outros instrumentos musicais na roda de capoeira, entre outros. Essas sugestões já foram usadas em workshops e apresentaram resultados positivos de aprendizagem. Ao finalizar o presente relato de experiência temos ciência de que a musicalidade da capoeira é complexa, motivo pelo qual nunca tivemos a pretensão de encerrá-la em um livro. Sob esse ponto de vista, consideramos o trabalho apenas um registro do que conseguimos pesquisar e publicar até outubro de 2020. Neste sentido, é importante mencionar que o estudo não foi uma tentativa de teorizar o processo da musicalidade da capoeira, mas sim um intento de enxergá-lo com os recursos que temos hoje, salvaguardá-lo, sugeri-lo,experimentá-lo. Compreendemos que no trabalho olhamos apenas para a superfície, com informações que traduzem muito pouco ou quase nada do que, realmente, significam esses registros. Sob esse ponto de vista, defendemos que a capoeira e a sua musicalidade são algo que transcendem a acústica, a matemática, a teoria, até mesmo a música em si, pois entendemos e cremos profundamente que existe algo maior, invisível, que envolve as vozes unidas como uma espécie de mantra, o chacoalhar dos caxixis, o encontro da mão com o couro, dos pés com a terra, as energias, as conexões, o respeito àqueles que pisaram nesse chão e deixaram seu sangue e suor antes de nós, e, acima de tudo, à força da ancestralidade.
Palavras-chave: Afinação; Musicalidade; Capoeira
REFERÊNCIAS
MARTINS, D. F. de P. S. Escalas, Inversas e Tríades: a matemática aplicada à música. 2015. 59 f. Dissertação (Mestrado em Matemática) – Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos de Goytacazes, 2015.
KRISTENSEN; B.; SANTOS, G. C. R. dos. Capoeira afinada. Navegantes: Ecos de Santo Amaro, 2020.
A VISÃO DE MUNDO DOS PRATICANTES DE CAPOEIRA
SIEGA, Carson Luiz
Grupo Muzenza de Capoeira, carson.siega@gmail.com
O presente artigo tem o objetivo de fazer uma abordagem sobre o conjunto de signos e representações que denotam a percepção da vida em sociedade e sua interação nela, por parte dos praticantes de Capoeira. Isso tudo de acordo com um “ethos” e uma “visão de mundo”, muito peculiares a esse universo da cultura afro-brasileira. A Capoeira com seus rituais e as representações do corpo que “joga com o outro” induz os seus praticantes a uma percepção diferenciada da vida e do mundo. Uma visão que mostra o corpo sujeito a ataques não somente físicos, através do jogo, mas também espirituais. Esse corpo, segundo a “visão de mundo” de alguns de seus praticantes, pode sofrer ataques dentro e fora da roda através de energias enviadas por magia ou “mandinga”. Um corpo que também retrata o“ethos” dos povos africanos que vieram para o Brasil. Um povo que criou a Capoeira vinculada à sua religiosidade. Assim sendo, entendo que a fala, o canto e a gestualidade dos praticantes de Capoeira demonstram um sistema de valores e crenças que refletem suas concepções sobre o sagrado e o profano. Essas concepções baseiam-se numa perspectiva de herança ou construção cultural, que mantêm o desejo da manutenção das tradições e rituais das várias tribos africanas, que a formaram no Brasil, independentemente de serem capoeiristas da Angola, Regional ou Moderna (Contemporânea), como tem sido chamada a Capoeira praticada, hoje em dia. O que pode variar é o grau de consciência do capoeirista a esse respeito, conforme o seu tempo de prática e busca pelo entendimento maior da Arte/Luta.
Palavras-chave: Capoeira; Corpo; Visão de mundo; Ethos; Espiritualidade.
COMPETIÇÕES NA CAPOEIRA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
CASTILHA, Fábio André; SCHMIDT, Keilla Cristiany
Associação de Capoeira Pedagógica – ACAPE; Grupo Muzenza de Capoeira, fabio@capoeirapedagogica.com.br
É sabido que a Capoeira é uma arte multifacetada e que contempla diversos aspectos biopsicossociais, com possibilidades de atuação em diversas vertentes (CASTILHA, 2012, p. 15). E dentre as vertentes contempladas pela Capoeira, a competitiva tem sido cada vez mais explorada pelas escolas e federações ao redor do mundo (VIANNA, 2020, p. 21). Apesar de amplamente difundida e já consolidada enquanto esporte (VIANNA, 2020, p. 21), a Capoeira ainda é considerada uma modalidade competitiva não profissional. De acordo com a Lei 9615, de 24 de março de 1998, popularmente conhecida como Lei Pelé (BRASIL, 1998), esporte não profissional é aquele praticado de maneira livre onde os atletas, em geral, não possuem contrato de trabalho desportivo firmado, incentivos materiais ou patrocínio. Não obstante, a Capoeira possui características próprias enquanto modalidade de luta; é uma das poucas com um sistema de graduação e regulamentos de competições não unificados, o que torna seu sistema de avaliação muito subjetivo. Diante disso, o objetivo deste breve relato é compartilhar experiências da Associação de Capoeira Pedagógica (ACAPE) na organização de eventos e participação em competições, trazendo à tona discussões pertinentes que objetivem o aprimoramento dos eventos competitivos na Capoeira. A ACAPE é uma associação privada sem fins lucrativos, de caráter cultural, esportivo e educativo que tem como finalidade contribuir para uma sociedade mais igualitária, tendo como base atividades voltadas para à educação utilizando a Capoeira como ferramenta pedagógica. Fundada em 10 de Junho de 2012 e reconhecida como de Utilidade Pública Municipal – Lei n° 4220, de 14 de abril de 2014, atua hoje em 20 núcleos e aproximadamente 1000 (mil) praticantes na cidade de Foz do Iguaçu. Além das diversas atividades já consolidadas desenvolvidas pela entidade (aulas, oficinas, organização de eventos, filantropia), a ACAPE teve seus trabalhos ampliados e voltados também à prática competitiva da Capoeira à partir do primeiro semestre de 2022; foram organizadas 2 competições com públicos distintos, sendo elas a 1° Copa Oeste de Capoeira realizada em julho de 2022 e as XXII Olimpíadas Especiais das APAEs do Paraná em agosto de 2022, além da participação de atletas em mais 2 competições: Jogos da Juventude e Jogos Abertos do Paraná, que aconteceram na cidade de Londrina/PR no mês de outubro de 2022, estas duas últimas organizadas pela Federação Paranaense de Capoeira e Paraná Esporte. Todas as competições tiveram regulamentos distintos, o que difere a Capoeira da maioria das modalidades de luta. A Copa Oeste de Capoeira previu em seu regulamento um sistema de pontuação somatório de 1 a 10, avaliado por 3 (três) árbitros, onde cada competidor realizava 2 ou 3 jogos com adversários distintos e duração de 1’ (um minuto) cada jogo. Os árbitros então avaliavam os competidores com base em critérios como volume de jogo, objetividade, técnica aplicada, dentre outros, além de dividir as categorias com base na idade e graduação dos competidores. Desta forma, o somatório total de pontos de cada categoria permitiu a classificação dos atletas de maneira simples e objetiva e, em caso de empates, um novo jogo de 1’ era autorizado para fins de desempate. De maneira similar, a competição das olimpíadas especiais das APAEs também previu a pontuação dos atletas por somatório simples a partir de critérios pré-estabelecidos, contemplando também o critério Superação; já as categorias foram organizadas com base nas deficiências dos atletas (categorias paralisia cerebral, síndrome de down e aberta, esta última contemplando diversas deficiências. Já os Jogos da Juventude e Abertos previram a pontuação por somatório simples de pontos em um sistema de competição por eliminatória simples. Entretanto, as categorias foram subdivididas por pesos e gênero, sem levar em conta o critério graduação dos atletas. Ainda, diferentemente das demais competições, o regulamento destas previu jogos de 2’ (dois minutos) para as categorias masculinas e 1’30” (um minuto e trinta segundos) para as categorias femininas e, em caso de empates, um novo jogo para desempate era estabelecido, com mesmo tempo de jogo previsto para cada categoria. Em linhas gerais, o sistema de competição adotado pela Federação Paranaense de Capoeira culminou com uma grande quantidade de empates entre as pontuações dos competidores, o que denotou em um desgaste fisiológico extremo dos competidores, especialmente daqueles que iam avançando na competição, fato não observado nos
sistemas de competição da Copa Oeste e Olimpíadas Especiais das APAEs. Com base nestas experiências, foi observado que o sistema de pontuação somatório de 1 a 10, com no mínimo de 2 jogos entre adversários distintos se mostrou o sistema mais justo e adequado dentre as competições de Capoeira citadas neste breve relato. Ainda, observou-se que o tempo de jogo em cada rodada é fator determinante para o bom andamento das competições, não devendo ele ultrapassar 1’ (um minuto), considerando as características da modalidade e de seus competidores.
Palavras-chave: Capoeira Pedagógica; Competição na Capoeira; Capoeira Desportiva
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 9.615/98. Brasília, DF: Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1998.
CASTILHA, F. A. Aspectos Pedagógicos da Capoeira. Passo Fundo: Méritos, 2012.
VIANNA, R. A. A. G. Análise técnico-tática na capoeira competitiva [recurso eletrônico]: combates do campeonato mundial 2018. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Paraná, p. 91. 2020.
RASTEIRA NA FOME: GINGANDO POR UM MUNDO MELHOR
SILVA, Fabiano Silveira
Grupo Muzenza de Capoeira, rasteiranafome15anos@gmail.com
Segundo o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2022, lançado pela Organização das Nações Unidas, o número de pessoas afetadas pela fome em todo o mundo subiu para 828 milhões em 2021. Atualmente no Brasil, conforme dados ofertados pelo Movimento Social Ação da Cidadania, há mais de 33 milhões de pessoas passando fome. Ainda, esse número no País revela que “a fome tem cor”, afinal 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com essa mazela. Lamentavelmente sabe-se que esse preconceito e desigualdade não são episódios isolados e atuais. Entretanto, apesar das condições adversas, o povo preto marcou/ marca rica presença indelevelmente em todas as áreas e de maneira bastante expressiva. Nesse sentido, além de percorrer caminhos de lutas e resistências, ele contribuiu/ contribui para aspectos estruturantes e transformadores na/ da nação brasileira. Portanto, o convite para o conhecimento e reflexões de um relato de experiência a respeito do entrelaçamento entre questões sociais, culturais, políticas, raciais e históricas se faz importante na Capoeira. Compreender que a Arte-luta pode ir além das pernadas, o gingado ancestral tem potência para transformações em mundo vivido e o capoeirista é capaz de fazer a diferença não apenas na Roda de Capoeira, mas na Roda da Vida. Sendo assim, o Projeto Rasteira na Fome “comprou o Jogo” e “partiu para o ataque”, com um dos golpes mais emblemáticos da Arte-luta, a rasteira, a fim de colaborar com a queda desse inimigo que assola a humanidade, a fome. Aquilo que iniciou no ano de 2001, em Porto Alegre/ RS, como uma ação de contrapartida para um Batizado e Troca de Graduações da Capoeira foi ganhando consolidação ao longo dos anos, através de significativas parcerias de capoeiristas, simpatizantes e instituições sociais, educacionais e artísticas. Além de ter sido uma iniciativa que exercitou a preservação da Cultura Afro-brasileira, a solidariedade também foi aspecto indissociável no Evento, arrecadando alimentos não perecíveis e criando espaço para discussões quanto à questão da fome no Brasil. Em 2002 foi fundada a Associação Cultural Rasteira na Fome (A.C.R.F.), uma instituição cultural e solidária, sem fins lucrativos, com os objetivos de valorizar a Cultura Afro-brasileira, com ênfase na Capoeira, além de combater permanentemente uma das maiores problemáticas sociais do País: a fome. Vinculada ao Grupo Muzenza de Capoeira, a A.C.R.F. também se destaca por promover o evento anual RASTEIRA NA FOME, que visa a divulgação da Cultura Negra e a arrecadação de alimentos não perecíveis. O Projeto já mobilizou cerca de 100 mil pessoas e arrecadou ao longo das edições ocorridas mais de 250 toneladas de alimentos, beneficiando diretamente 40 instituições de apoio a pessoas carentes e 15 comunidades. Durante as edições realizadas, o RASTEIRA NA FOME contou com a participação de professores e mestres de Capoeira residentes em território nacional e internacional. O Evento já levou nos seus shows de encerramento bandas e músicos conceituados em âmbito nacional. Aliado a estas ricas parcerias, a legitimação do RASTEIRA NA FOME ao longo dos anos aconteceu devido à cooperação de significativos colaboradores tanto da comunidade capoeiristica quanto simpatizantes. Com a expansão do Evento e seus ideais, em 2009 é inaugurado o Espaço Cultural Rasteira na Fome, com o propósito de articular ações sócio-culturais-educativas não apenas em uma determinada data do ano, mas ampliá-las com duração permanente para a comunidade. Nesse ambiente onde frequentam aproximadamente 100 participantes são ofertadas aulas de Capoeira, percussão, danças, palestras e oficinas temáticas referente à negritude. No período mais rigoroso da pandemia a A.C.R.F. adaptou-se às limitações e proporcionou alternativas de manter os capoeiristas integrados mediante encontros virtuais, sem abdicar da ação solidária de arrecadação de alimentos não perecíveis, a fim de ajudar capoeiristas e seus familiares, bem como comunidades a sobreviverem frente ao cenário caótico que a humanidade experimentou e segue em expressiva dificuldade. Agora, com a situação flexibilizada e os retornos cautelosos dos reencontros presenciais em aulas, Rodas e eventos, os capoeiristas que contribuem com o movimento cultural e social do Projeto Rasteira na Fome seguem engajados nas articulações entre o bom gingado da Arte-luta e as ações sociais, realizando, principalmente, apoio e intervenções culturais junto da Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, coletivo que serve diariamente cerca de 300 refeições gratuitas à população, sem qualquer investimento público, contanto apenas com a contribuição solidária dos apoiadores. Portanto busca-se para os próximos anos a extensão dessas atuações, divulgando o Projeto em outros territórios. Aliado a isso, a qualificação de cidadãos polinizadores desse movimento na sociedade, entrelaçando os princípios da Cultura Afro-brasileira, em especial, aqueles contidos na Capoeira.
Palavras-chave: Rasteira; Fome; Capoeira
REFERÊNCIAS
AÇÃO DA CIDADANIA. Disponível em: https://www.acaodacidadania.org.br/. Acesso em: 18/ 09/ 2022.
BRASIL SEM FOME. Disponível em: https://www.brasilsemfome.org.br/?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm
_campaign=acaocidaddania-ampliva-google-geral-redepenssan-trafego-mai22-
cpc&utm_content=acaocidaddania-ampliva-google-geral-redepenssan-trafego-
mai22-cpc-as18+-ampla-generica texto&gclid=CjwKCAjw4JWZBhApEiwAtJUN0Keo_qVGILmfRTXJi9XOXMQwt-
B29qAZs_448LONMj7B6CIDF2OtnxoCQVIQAvD_BwE. Acesso em: 18/ 09/ 2022.
COZINHA SOLIDÁRIA. Disponível em: https://www.cozinhasolidaria.com/#inicio. Acesso em: 18/ 09/ 2022.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Fome cresce no mundo e atinge 9,8% da população global. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2022/07/1794722#:~:text=O%20relat%C3%B3rio%
20Estado%20da%20Seguran%C3%A7a,da%20pandemia%20de%20Covid%2
D19. Acesso em: 18/09/2022.
ÁRVORE SEM RAIZ NÃO FICA DE PÉ: ACHADOS SOBRE MESTRE ANTONIO CORRÓ
PLACEDINO, Fernando Campiol
Grupo Muzenza de Capoeira, tropeco02@gmail.com
A pergunta “de onde vim?” para tentar compreender “quem sou?” são questionamentos que movimentam a existência humana e, quando transpostas para o universo específico da Capoeira, inquietam os sujeitos-gingantes e podem trazer reflexões que os façam compreender aquilo que herdaram, as marcas que carregam consigo e manifestam nas suas posturas atuais. Retornar as raízes é conectar-se com os ancestrais, é buscar entrelaçar os fios que dão sentido ao gingar do capoeirista. Conhecer a sua linhagem é obter informações e práticas realizadas em outros tempos, cultivadas e disseminadas por diferentes pessoas e que deram continuidade ao longo das demais épocas mediante as suas manifestações. Por isso, acredito que esse estudo sirva como uma significativa abertura para maiores conhecimentos sobre o Mestre Antonio Corró, além de ser um provocador para próximos estudos e aprofundamentos sobre esse Mestre que plantou sementes pelas bandas de Salvador/ BA e foi/ é responsável por ricos frutos em forma de capoeiristas inseridos em diversos grupos, escolas, instituições, associações de Capoeira pelo mundo. Sendo assim, desejo compartilhar os achados que pude coletar ao longo dos anos mediante conversas informais com Mestres e demais capoeiristas, citações contidas em livros e menções em outras diferentes literaturas. Registrar numa forma estruturada um material inédito que fale especificamente a respeito do Mestre Antonio Corró. Ainda para a exposição de tais informações coletadas, pretendo apresentá-las de maneira ordenada cronologicamente, segundo a sua data de divulgação ao público em geral (mais antiga até a mais atual). Com isso, iniciarei as apresentações sobre o Mestre Antonio Corró partindo de uma das clássicas obras de Jorge Amado, “Tenda dos Milagres” (1969). Em seguida, exibirei as informações sobre o Mestre através do livro “Capoeira e Mandingas – Cobrinha Verde”, de Marcelino dos Santos (1991). Na sequência, mostrarei as citações contidas no “ABC da Capoeira Angola – Manuscritos do Mestre Noronha” (1993), organizado por Fred Abreu, aliado aos fragmentos do livro do Mestre Nestor Capoeira, “Capoeira – O novo manual do jogador” (2017). Depois, coloco em exposição o cordel feito em 2018 pelo capoeirista Boa Alma (Antonio Luiz S. Campos), com o título “Mestre Antonio Corró”. Por fim, encaminho como desfecho, a apresentação de algumas informações recebidas mediante conversas informais com o Mestre Polaco (José Roberto Rocha – 2020), discípulo de Mestre Paraná. Portanto, entre muitos encontros e alguns desencontros no que se referem aos dados coletados sobre Mestre Antonio Corró, como por exemplo datas aproximadas e grafia do nome “Corró” (por vezes mencionado como “coró”), percebe-se que as informações reunidas ao longo dos anos, de modo geral, convergem-se, entrelaçam-se e reforçam-se. Com isso, elas ganham credibilidade e encorajam a se permanecer investigando sobre esse capoeira, ainda pouco falado, conhecido, estudado e valorizado, apesar de milhares de capoeiristas espalhados pelo mundo trazerem no seu gingado as marcas de Mestre Antonio Corró. Acredito que proporcionar esse diálogo entre os saberes popular e erudito, assim como discutí-los e refletí-los podem trazer ampliações de horizontes para as pessoas, neste caso, os capoeiristas. Que as provocações aqui realizadas a respeito da vida de um Mestre de Capoeira não se limitem a meras satisfações de curiosidades, mas que sejam capazes de potencializar os capoeiristas a sairem para um jogo que transcenda aús, negativas e rolês. Sejam um convite ao exercício de autoconhecimento, a melhor compreensão do fenômeno da Capoeira, da importância de valorizar, cuidar, escutar e aprender com os mais velhos, não permitindo que seus saberes sejam despretensiosamente consumidos, descartados e até soterrados. Inegavelmente, posturas de abandono, esquecimento, desprezo pela ancestralidade podem enfraquecer cada vez mais os galhos, deixar com menos brilho as folhas, com menos beleza as flores e com menos sabor os frutos. Com isso, o capoeira corre o risco de tornar-se um mero corpo-objeto, esvaziado em si. Conforme lembra o provérbio africano, “quem não sabe de onde veio, não sabe pra onde vai”. Não esqueçamos de regar diariamente nossas preciosas plantas, pois árvore sem raiz não fica de pé!
Palavras-chave: Antonio Corró; Ancestralidade; Linhagem
REFERÊNCIAS
AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres. São Paulo: Martins, 1969.
CAPOEIRA NEWS. Mestre Antonio Corró. Disponível em: https://www.capoeiranews.com.br/2018/12/mestre-antonio-corro.html. Acesso em: 11/01/2021.
HERÁCLITO DE ÉFESO. Os Pré-Socráticos: Heráclito. São Paulo: Abril Cultural, 1996.
NESTOR, Capoeira. Capoeira, o novo manual do jogador. Rio de Janeiro: Autor, 2017.
NORONHA, Mestre (Daniel Coutinho). O ABC da Capoeira Angola, os manuscritos de Mestre Noronha. Brasília: DEFER CIDOCA, 1993.
ROCHA, José Roberto. Mestre Antonio Corró. WathsApp. Set. 2020. Mensagens de WathsApp.
SANTOS, Marcelino dos. Capoeira e Mandingas, Cobrinha Verde. Salvador: Rasteira, 1991.
BRINCANDO E APRENDENDO CAPOEIRA COM CANTIGAS
FURTADO, Jairo
Grupo Muzenza de Capoeira, professorjairo@yahoo.com.br
O presente resumo consiste em um relato de experiência referente a aulas de capoeira na Educação Infantil e a criação da obra literária – Brincando e Aprendendo Capoeira com Cantigas, idealizada e escrita por um professor de capoeira. O relato se justifica pela estratégia pedagógica utilizada que obteve ótimos resultados no processo de ensino aprendizagem da capoeira na fase da Educação Infantil, elogiado pela equipe pedagógica da escola, educadores e pais. A Educação Infantil é uma fase desafiante para professores de capoeira que iniciam um trabalho dentro das escolas. Tudo começa após ter recebido a notícia da equipe pedagógica de que, as aulas de capoeira, que já aconteciam na escola, mas apenas para fase do Fundamental I, teriam que acontecer também na fase da Educação Infantil. Foi através das dificuldades encontradas no ensino da capoeira nessa fase muito importante das crianças que foram surgindo ideias para que as aulas se tornassem mais atrativas, prazerosas, com muito aprendizado e desenvolvimento dos educandos e também do educador. À medida em que as estratégias pedagógicas aplicadas mostraram ser eficientes, foram anotadas. Com isso, surgiu a ideia de produzir uma obra e foi com a ajuda de outros profissionais (designer, educadores e capoeiristas) que ela foi lançada. Como idealizador, o autor do presente texto realizou um planejamento de como seria a obra, começando com a parte descritiva, seguindo da ilustrativa e, depois, rítmica e de mixagem. Após concluir o planejamento, foi contratado um profissional para fazer as ilustrações e montar o corpo do livro, um profissional para fazer a gravação e mixagem das cantigas, profissionais de capoeira e alunos para cantar e tocar. A obra lançada é composta de cantigas pedagógicas que foram criadas para atender às necessidades da criança de se movimentar, criar, socializar, imaginar, interagir e se expressar e, principalmente, contribuir no processo de aprendizagem da capoeira. As cantigas falam de animais que jogam capoeira, trem que ginga, das ondas do mar, entre outras. Na obra, encontram-se ilustrações de cada cantiga e também a descrição de como podem ser trabalhadas com os educandos, dando a possibilidade ao educador de usar sua criatividade e, a cada cantiga, desenvolver diferentes formas de interagir e brincar. As cantigas foram gravadas nos ritmos de São Bento Pequeno de Angola, São Bento Grande de Angola e São Bento Grande da Regional e, além disso, uma das cantigas teve o acompanhamento de uma viola. Algumas cantigas possuem efeitos sonoros que atraem ainda mais a atenção das crianças. As estratégias pedagógicas, como salientado no início do texto, obtiveram ótimos resultados no ensino da capoeira na fase da Educação Infantil. Através delas, as aulas foram se transformando em um mundo de imaginação, conhecimento, expressão corporal, desenvolvimento e muito aprendizado. As cantigas pedagógicas foram além da sala de aula, com relatos dos pais de que seus filhos brincavam, cantavam e realizavam os movimentos corporais em casa, além de serem apresentadas em eventos de capoeira. Com isso, a idéia de lançar a obra ficava cada vez mais fixa. As ilustrações da obra ficaram bastante atrativas, as descrições das atividades ficaram fáceis de serem compreendidas. Porém, depois de tudo planejado, vieram as dificuldades para a obra ser concretizada, mas, no final, deu tudo certo. O que mais dificultou o lançamento, foi a parte financeira para impressão e também para gravação das cantigas. A maior motivação para que a ideia fosse adiante, foi o apoio e incentivo daqueles que viram a importância do trabalho. Depois de imprimir as primeiras 100 cópias da obra, iniciou-se a parte da gravação das cantigas, que contou com a participação de um mestre de capoeira, professores e alunos. Foram gravadas 15 faixas, que foram colocadas em um canal no YouTube e o acesso às cantigas foi feito através do QRCode anexado no livro. O lançamento da obra foi no dia 14 de maio de 2022, no evento “Festival Capoeira Arte que Encanta”, em São Mateus do Sul. A obra já está sendo utilizada por professores de capoeira e sendo bastante elogiada. Diferentes formas de ensinar são muito importantes para que os objetivos do ensino da capoeira infantil sejam alcançados com êxito. Apesar das dificuldades encontradas no processo de concretização da obra Brincando e Aprendendo Capoeira com Cantigas, é muito gratificante poder apresentá-la para a comunidade capoeirística. As atividades descritas na obra irão ajudar professores e educadores em suas aulas e, através delas, com certeza, novas ideias surgirão.
Palavras-chave: Capoeira; Cantigas; Ensino-aprendizagem.
CAPOEIRA: ARTE-LUTA COMO UM INSTRUMENTO PARA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
BERTONCELLO, Kanandra Taisa; SILVA, Fabiano Silveira; PLACEDINO, Fernando Campiol
Grupo Muzenza de Capoeira, kanandratb@gmail.com
O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento presente em cerca de 1-2% da população mundial. Embora os indivíduos com TEA sejam muito diferentes uns dos outros, este transtorno é caracterizado por déficits na comunicação e interação social, e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos. Comorbidades psiquiátricas e neuropsicológicas podem estar associadas ao TEA, como hiperatividade, distúrbios de atenção e linguagem, ansiedade, depressão, deficiência intelectual, disfunção executiva e motora, por exemplo. Em se tratando de um “espectro”, a presença das comorbidades, bem como a gravidade das mesmas, e o nível de suporte que os indivíduos necessitam variam muito dentro desse transtorno. O tratamento para o TEA é feito por meio de abordagens farmacológicas e não-farmacológicas que se baseiam em evidências que comprovam seus benefícios. Entretanto, várias abordagens com benefícios não comprovados também estão disponíveis. Estas atividades permitem com que os indivíduos interajam com um ambiente de forma adaptativa, desenvolvendo assim um mecanismo para melhorar as disfunções sensório-motoras subjacentes e consequentemente contribuindo para uma melhoria na qualidade de vida. Intervenções através da atividade física são benéficas aos indivíduos com TEA no que diz respeito à redução de déficits motores e melhorias nas habilidades cognitivas e comportamentais. Neste sentindo, a capoeira oferece a seus praticantes o desenvolvimento de habilidades físicas (agilidade, flexibilidade, consciência corporal e coordenação motora), que proporcionam uma melhora no condicionamento cardiovascular e musculoesquelético. Além disso, a prática da capoeira estimula a cooperação e interação entre os praticantes, desenvolvendo assim as habilidades sociais. Ademais, esta arte-luta, por ser uma prática interdisciplinar, proporciona o conhecimento da história, música, poesia e dança. Desta forma, partimos do pressuposto de que a capoeira é capaz de proporcionar uma melhoria na qualidade de vida dos praticantes que estão no espectro autista. Esta revisão tem como objetivo verificar os benefícios que a prática da capoeira pode trazer para indivíduos com TEA, bem como para uma melhoria na qualidade de vida deste público. Realizou-se uma busca na literatura para verificar trabalhos associando a prática da capoeira com o autismo. Sendo assim, a busca foi realizada na plataforma PubMed usando termos chave como “autism spectrum disorder AND Capoeira” e “autism AND Capoeira”. Termos chave como “transtorno do espectro autista E capoeira” e “autismo E capoeira” foram utilizados na plataforma do Google Acadêmico. Houve um total de 2 estudos qualitativos encontrados que relacionaram o TEA com os benefícios da prática da capoeira. Uma pesquisa realizou entrevistas com pais de crianças e adolescentes autistas que praticavam capoeira, com o objetivo de avaliar melhorias na qualidade de vida dos praticantes. Os entrevistados relataram que houve benefícios para a coordenação motora das crianças, melhorias nos aspectos da interação social, bem como na afetividade entre mestre/aluno, além de melhorias no cotidiano e motivação na aprendizagem da capoeira. Conforme o estudo, os principais pontos relatados pelos pais, dos quais observaram melhorias significativas pela prática da capoeira, foram o da interação social e da coordenação motora. Observou-se que a prática da capoeira proporcionou aos filhos a melhoria em se relacionar com outras pessoas, inclusive em ambientes que não tivessem ligação com as aulas de capoeira. Já, o outro estudo buscou compreender as aulas de capoeira como um espaço de inclusão e melhoria da autoestima e interação para pessoas com TEA. Os autores entrevistaram os professores de capoeira, coordenadores e mães dos alunos com TEA de uma instituição. Dessa forma, constatou-se que os praticantes melhoraram os aspectos sociais, onde houve progresso na capacidade de aproximação entre os alunos com TEA e outras pessoas, praticantes ou não da capoeira. Além disso, observou-se uma melhora na agilidade, força, resistência física e flexibilidade dos praticantes. Quanto aos aspectos afetivos, os autores verificaram que a música e os movimentos presentes na capoeira proporcionam liberdade aos alunos, fazendo com que ocorra uma melhora na autoestima e interação social. Embora existam poucos estudos sobre os benefícios da prática da capoeira para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com TEA, ainda assim é possível verificar que ambos os trabalhos analisados nesta revisão trouxeram pontos em comum quanto aos resultados observados. Houve melhora dos aspectos sociais dos indivíduos com TEA, não somente no ambiente da capoeira como também fora dele, demonstrando uma grande contribuição da prática para o desenvolvimento dos comportamentos sociais. Além disso, a melhoria na coordenação motora, resistência física e benefícios para a motivação, autoestima e inclusão também foram observados. Desta forma, é possível concluir que a prática da capoeira pode ser um instrumento promissor na melhoria da qualidade de vida de indivíduos com TEA, podendo ser uma aliada no desenvolvimento das habilidades sociais e motoras.
Palavras-chave: Autismo; Atividade física; Saúde; Capoeira.
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ORQUESTRA FEMININA DE BERIMBAUS ON-LINE: UMA EXPERIÊNCIA INÉDITA
FIGUERÔA, K. M. 1 ; SIQUEIRA, A. 2
1 Centro Universitário Internacional Uninter; Grupo Muzenza, profa.katymello@gmail.com;
2 Centro Universitário Internacional Uninter; alyson.s@uninter.com
O presente resumo consiste em um relato de experiência referente a uma orquestra feminina de berimbaus on-line, idealizada, coordenada e produzida pelos autores do texto, uma professora de capoeira, musicista e instrumentista da cultura popular, e um músico e produtor musical profissional, ambos professores universitários. O relato se justifica pela inovação nessa produção, ou seja, a metodologia utilizada para superar as restrições que levaram à impossibilidade de realizar um evento presencial em meio à pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2. Essa história começa com o projeto de um livro com temáticas referentes à participação feminina na capoeira, idealizado pela autora desse texto em meio à pandemia. A obra, com mais de 50 autores, dividida em dois volumes, foi intitulada de “Mulher na Capoeira: produção de saberes, identidade e representatividade”, e contou com apoio da Fundação Cultural de Curitiba para a realização do seu lançamento com diversas ações, como oficinas, palestras e apresentações culturais, entre estas, a orquestra feminina de berimbaus. Devido à pandemia, o evento teve que ser realizado de forma remota. No que se refere à orquestra de berimbaus, ainda não havia nenhum registro de sua execução no formato on-line. Essa e as demais apresentações culturais foram gravadas, editadas e transmitidas nos dias das lives do evento, em 2021. Como idealizadora e coordenadora, a autora do presente texto realizou o planejamento de como se realizaria a orquestra, iniciando por uma lista de mulheres capoeiristas que desejava convidar – em torno de 50 mestras, contramestras, professoras, alunas iniciantes, intermediárias e avançadas de várias cidades e países. Em seguida, com o apoio de um mestre de capoeira, pensou em uma guia para gravação com os toques de berimbau composta pelos toques: Angola; São Bento Pequeno de Angola; São Bento Grande de Angola; Regional; e Iúna – em torno de 30 segundos de cada um, sem nenhum tipo de variação em sua execução. Foi elaborado um documento com as orientações para a produção e envio do vídeo de cada instrumentista. Na sequência, fez-se a proposta de trabalho ao outro autor do texto, músico com as competências necessárias para editar e elaborar a composição da orquestra e, apesar de ser algo totalmente diferente para ele, que nunca havia feito algo parecido com esse tipo de instrumento musical, aceitou prontamente. Após aprovar as orientações e realizar alguns ajustes na guia – como colocar as levadas em um andamento constante, acrescentar uma contagem antes do início de cada levada e colocá-las todas em sequência em um mesmo arquivo -, o professor deu seu aval para que o material fosse enviado às convidadas do projeto. 34 convidadas enviaram o material no prazo, além de 3 convidadas que compuseram o vídeo da orquestra declamando seus poemas publicados no livro. Para a edição, o responsável verificou a qualidade dos vídeos; a afinação de cada berimbau, classificando-os em quatro grupos, cada um referente a uma nota musical; selecionou um berimbau representante de cada grupo e fez um arranjo que serviu de base para a inclusão de todos os demais, o que resultou no efeito sinfônico; enviou para a coordenadora para aprovação, que analisou e aprovou o material juntamente com mais especialistas de capoeira. Na sequência, o professor realizou o ajuste de sincronia, pois algumas pessoas não seguiram totalmente a guia, editou o vídeo distribuindo as instrumentistas em diversas telas e sequências, colocou as três declamações de poemas com legendas e fundo musical com os próprios toques de berimbau com alguns efeitos. O encerramento do vídeo traz todos os apelidos de capoeira das instrumentistas, com suas graduações, classificação do berimbau utilizado, cidades, estados e países. Houve diversos momentos de dificuldade na realização do projeto, como aqueles referentes às musicistas e instrumentistas da cultura popular não possuírem conhecimento de algumas práticas musicais profissionais, como, por exemplo, seguir uma guia para gravação, nervosismo e vergonha para a realização da gravação, falta de prática devido à ausência de rodas durante a pandemia, falta de estrutura referente à acústica ideal para a gravação e de recursos tecnológicos suficientes para tal. Na edição, a principal dificuldade foi a sincronização entre som e imagem. Normalmente, esses vídeos no estilo mosaico são gravados a partir de um arranjo musical concebido previamente e, nesse caso, por adotarmos uma lógica inversa, cada pequeno segmento de vídeo de cada integrante teve que ser sincronizado um a um. Ambos os autores enriqueceram seus conhecimentos. A musicista e instrumentista da cultura popular adquiriu conhecimentos técnicos da área profissional e o músico profissional adquiriu conhecimentos práticos musicais do âmbito da cultura popular. Com todas as dificuldades que se apresentaram durante o processo de concretização desse projeto, essa construção coletiva vai marcar a história das capoeiristas participantes, que comentaram que se sentiram desafiadas, mas felizes por poderem fazer parte dessa produção, que ficou muito bonita e que foi bastante elogiada pela comunidade capoeirista e não capoeirista. Da mesma forma, marcará as vidas e as carreiras dos produtores dessa orquestra como uma rica e inovadora experiência que envolve, reconhece e valoriza, de forma cuidadosa e carinhosa, nossa cultura popular, a música e as mulheres a partir da capoeira.
Palavras-chave: Capoeira; Música; Mulher.
A PSICOMOTRICIDADE APLICADA À CAPOEIRA
DA SILVA, Kelvin Moreira Gomes
Grupo Muzenza de Capoeira, kelvin-moreira@hotmail.com
A criança só sabe viver a sua infância. Conhecê-la pertence ao adulto. Mas o que vai prevalecer nesse conhecimento: o ponto de vista do adulto ou da criança? (WALLON, 2005). Esta parte da necessidade de transmitir os conhecimentos aplicados no dia a dia para professores de capoeira que atuem em escolas de educação infantil e fundamental I, para que tenham mais clareza de suas práticas e assim percebam que sua atuação está muito além de dar algumas pernadas, mas que sim esse atua no desenvolvimento global do indivíduo atuando como o especialista de movimento dentro daquele ambiente, utilizando os conceitos de psicomotricidade como norte deste trabalho. Segundo Ajuriaguerra (1983), “Psicomotricidade é a expressão de um pensamento pelo ato motor preciso, econômico e harmonioso”. Tendo em vista a definição exposta acima, entende-se a psicomotricidade como uma ciência que estuda o indivíduo por meio do seu movimento que exprime, em sua realização, aspectos motores, afetivos e cognitivos, resultados da relação do sujeito com seu meio social. Percebi que minha atuação perante as aulas de capoeira na escola precisava ser refinada, faltava algo, algo que encontrei quando busquei a pós-graduação em Psicomotricidade, onde pude abrir o olhar além do desenvolvimento motor do indivíduo, e vislumbrar que os aspectos afetivos e cognitivos influenciavam tanto quanto no processo de desenvolvimento do ser humano, principalmente em crianças, e que isso atravessava todas as fases da vida do ser humano. Partindo desse olhar me atentei que a grande maioria dos capoeiristas que trabalham com capoeira a fazem em escolas de educação infantil e que grandes eventos de capoeira em sua maioria tem grandes números de crianças como parte de suas graduações. Entretanto fui observando que muitos professores realizavam e realizam bons trabalhos, mas muitos não sabiam e nem tinham a ideia de que era importante ter a consciência dos porquês de sua prática no que tange os aspectos afetivos, cognitivos e motores e o quanto isso influencia o dia a dia do aluno e, consequentemente, seu desenvolvimento na aula, na sua rotina diária, na capoeira e ao decorrer de sua vida. Passei a trazer esse olhar/ conhecimento para minhas aulas e transformar isso em conteúdo nas redes sociais para compartilhar com profissionais de capoeira para que pudessem assim melhorar sua atuação e refletir sobre suas práticas. Dessa forma, também fazendo com que a instituição de ensino, escola e corpo docente, possam ter um olhar diferenciado para o profissional que atua na escola com a especialidade capoeira para além das pernadas, mas para um olhar que aquele profissional sabe o que está fazendo na sua rotina de aulas, o quanto sua atuação vai influenciar a vida dos estudantes e que instituição de ensino e profissional especialista, juntos, trarão grandes benefícios para quem mais precisa: o aluno. Pude observar ao decorrer do tempo, principalmente no período da pandemia, o olhar das pessoas que acompanham os meus conteúdos nas redes sociais, ficando mais refinado na questão de ministrar aulas e compreender sua prática, onde conseguiram vislumbrar que ministrar aulas de capoeira na escola está muito além de transferir a cultura popular brasileira para frente, mas que esse profissional tem uma parcela de responsabilidade no desenvolvimento global do aluno, que dependendo da atuação do profissional, vai causar facilidades ou dificuldades ao decorrer da vida desse indivíduo. Nesse processo construí uma pequena formação que se chamava “Minicurso de como alavancar suas aulas, trabalhando com faixas etárias”. Nesse processo tivemos por volta de sessenta pessoas que participaram e mudaram com certa intensidade sua forma de visualizar e atuar em suas aulas, pois o objetivo da proposta não era ensinar as pessoas a ministrarem aula da forma que já faziam, mas fazer com que pudessem entender conceitos e que pudessem colocar os conceitos em suas práticas. Chegando aos termos finais do referido relato de experiência, é possível compreender que os conteúdos de psicomotricidade disponibilizados via plataformas digitais para professores de capoeira foi possível modificar a mentalidade dos profissionais de capoeira que atuam ministrando aulas em diversos níveis de ensino e estimulado pessoas a buscarem mais conhecimento para que possam ministrar aulas melhores e tendo noções do que de fato estão fazendo e os porquês do que estão fazendo.
Palavras-chave: Psicomotricidade; Capoeira; Profissional; Escola.
REFERÊNCIAS:
AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. São Paulo: Ed. Masson, 1983.
WALLON, Henry. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 2005.
NEURODIVERSIDADE E CAPOEIRA
HENDRY, Kirsty
Grupo Muzenza de Capoeira, moranguinho.kirsty@gmail.com
Existem muitos mal-entendidos de pessoas com condições neurodiversas, como autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Os professores de capoeira podem não saber por que os alunos neurodiversos se comportam de uma maneira particular e podem não ter certeza se podem adaptar as aulas para esses alunos. Historicamente, as pessoas neurodiversas foram pressionadas a se comportar de uma maneira “neurotípica”. No entanto, isso muitas vezes tem sido prejudicial. As abordagens modernas visam trabalhar com a neurodiversidade e não contra ela. Ao explicar a neurodiversidade e como ela interage com elementos da capoeira, este artigo visa fornecer aos professores informações para ajudá-los a apoiar seus alunos e garantir que eles se beneficiem da capoeira. O presente trabalho tem como objetivos definir neurodiversidade e condições relacionadas, incluindo TDAH e autismo, identificar os desafios e benefícios da capoeira para indivíduos neurodiversos e identificar estratégias de apoio aos alunos neurodiversos nas aulas de capoeira. Usando uma rápida revisão de literatura e análise textual de postagens de mídia social de grupos de neurodiversidade, este artigo definirá a neurodiversidade e algumas das maneiras pelas quais ela comumente se apresenta. A análise textural das postagens nas redes sociais permite compreender aqueles com experiência vivida, o que nem sempre é contemplado nas pesquisas acadêmicas. isso é importante quando essas experiências foram historicamente ignoradas. O artigo examinará então como essas experiências interagem com a capoeira usando a experiência do autor de ensinar capoeira ao lado de entrevistas com outros instrutores de capoeira. Embora existam alguns desafios no ensino de capoeira para pessoas com neurodiversidade, também há benefícios. Embora possam se distrair na aula, os alunos com TDAH podem encontrar no movimento constante da capoeira uma maneira de controlar a hiperatividade. A rotina pode ser benéfica para alunos com autismo e eles podem se beneficiar das interações sociais nas aulas. No entanto, as aulas de capoeira podem ser superestimulantes se forem sensíveis ao ruído. Uma comunicação clara das expectativas e instruções passo a passo são úteis. Também é importante aprender sobre as experiências e necessidades específicas de cada aluno e o que funciona para eles. As aulas de capoeira podem ser adaptadas para atender a indivíduos neurodiversos. Alunos com condições como autismo e TDAH podem se beneficiar da capoeira, especialmente quando os professores entendem os desafios que esses alunos têm.
Palavras-chave: Neurodiveridade; Ensino; Autismo; TDAH; Capoeira.
REFERÊNCIAS
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Multidisciplinary Research, 1(1), 14–30. https://doi.org/10.55033/ejmrv1n1-002.
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL PARA MULHERES CAPOEIRISTAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
SANTOS, Maira 1
Grupo Muzenza de Capoeira, nutri.mairasantos@gmail.com.
A alimentação adequada e saudável é imprescindível para garantir o rendimento e desempenho na prática da capoeira (ESCARSO; ABREU, 2012). No entanto, identifica-se a ausência de orientações sobre alimentação, acompanhamento nutricional e práticas alimentares inadequadas de capoeiristas, sendo comum recorrerem ao uso de suplementos nutricionais sem prescrição por profissional habilitado e dietas da moda (SANTOS, 2019). Essas escolhas interferem no estado de saúde dos indivíduos e podem provocar prejuízos a longo prazo (ESCARSO; ABREU, 2012). O nutricionista utiliza a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) como ferramenta para nortear a qualificação do processo educativo sobre alimentação e nutrição, de maneira coletiva, e que potencializa a autonomia dos indivíduos sobre as escolhas alimentares (SANTOS, 2005). Assim sendo, o presente relato objetiva descrever uma experiência de EAN voltada à promoção da alimentação adequada e saudável com mulheres praticantes de capoeira. A atividade de EAN foi realizada no grupo de WhatsApp do coletivo “A Voz da Mulher”, em junho de 2020, constituído por 193 integrantes, durante o contexto pandêmico do coronavírus que o Brasil e o mundo estavam vivenciando. Participaram da atividade mulheres que treinam capoeira, integrantes do Grupo Muzenza de Capoeira, com idade maior ou igual a 18 anos, de diferentes regiões do Brasil e países. A proposta se baseou em uma troca de saberes sobre alimentação adequada e saudável, desenvolvida por uma nutricionista e foi dividida em dois momentos. No primeiro momento, foi questionado ao grupo, pela nutricionista, o conceito de alimentação adequada e saudável e, em seguida, apresentado material educativo baseado nos dez passos para uma alimentação adequada e saudável do Guia Alimentar para a População Brasileira de 2014 (BRASIL, 2014). O material consistiu em imagens informativas de cada passo. O dia ficou livre para discussão entre as capoeiristas no grupo de WhatsApp sobre o tema apresentado, com mediação da nutricionista. No segundo momento, foi realizada vídeo chamada, através do aplicativo Zoom, com as participantes, para contextualizar as discussões que foram apresentadas no decorrer do dia e para esclarecer dúvidas. Ao longo do desenvolvimento da intervenção, percebeu-se que as participantes manifestaram interesse sobre assuntos relativos à nutrição e tendência de mudança do comportamento alimentar. Muitas demonstraram conhecimento sobre práticas alimentares relacionadas aos dez passos. Foram apresentadas avaliações positivas da intervenção ao fim da atividade por parte das integrantes do grupo. O objetivo das atividades de EAN é difundir os conhecimentos da alimentação e nutrição (BRASIL, 2012), assim, destaca-se a necessidade da continuidade e ampliação da intervenção proposta, a fim de alcançar mais mulheres praticantes de capoeira. Propõem-se para futuros trabalhos, intervenções nutricionais de forma continuada, presencial e prática para desenvolver diferentes métodos de ensino-aprendizagem, com o objetivo de ampliar as discussões e conhecimentos sobre a temática.
Palavras-chave: Educação alimentar e nutricional; Mulheres; Capoeira.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília, 2014. 158 p.
ESCARSO, C. B.; ABREU, E. S. Avaliação do estado nutricional, do conhecimento
sobre suplementação nutricional e do uso de dietas da moda por praticantes de
atividade física de uma Universidade do município de São Paulo. EFDeportes.com.
Revista Digital. Buenos Aires, n. 171, 2012.
SANTOS, L. A. S. Educação alimentar e nutricional no contexto da promoção de
práticas alimentares saudáveis. Rev. Nutr., Campinas, v. 5, n. 18, p. 681-692, 2005.
SANTOS, M. Consumo de suplementos nutricionais por praticantes de capeira. In:
MENEZES, A. C.; SOUZA, S. Textos de Capoeira Volume IV. Rio de Janeiro: Editora
Atual Design, 2019. p. 190-208.
A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA DA CAPOEIRA NA LONGEVIDADE DE MULHERES IDOSAS
CARNEIRO, Nelson Hilario; PLACEDINO, Fernando Campiol
Grupo Muzenza de Capoeira, mestrenelsonmuzenza@gmail.com
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima-se que daqui a quatro anos teremos cerca de 1,2 bilhão de idosos no mundo e, nesse momento, o Brasil atingirá a 6a colocação entre os países com maior número de idosos, atingindo cerca de 33 milhões. O envelhecimento é um processo natural e progressivo que resulta em diversas modificações morfológicas, neuromusculares, metabólicas, fisiológicas, cognitivas e comportamentais, com destaque para a redução da força e massa muscular. Tais alterações podem resultar em declínio funcional importante, afetando a capacidade de execução de movimentos relativamente simples e exigidos nas atividades da vida diária. Nesse sentido, a força muscular tem sido considerada fator chave para a velocidade de marcha em mulheres idosas, por exemplo. Além disso, pesquisas mostram que programas de atividades físicas aeróbias e anaeróbias podem aumentar a capacidade aeróbica e a força muscular, respectivamente, em 20% a 30% ou mais nos idosos. Entre as várias formas de prática de exercícios estão as artes marciais, que inclui a Capoeira. Arte-luta-dança praticada com musicalidade, que proporciona um ambiente positivo, agradável e que motiva os praticantes, fazendo com que fiquem totalmente envolvidos. Ainda é considerada um dos exercícios físicos mais completos por provocar adaptações nos sistemas muscular, cardiovascular e respiratório, bem como melhora os componentes da capacidade funcional como a coordenação, o equilíbrio, a agilidade e a potência. Como os componentes de saúde e as capacidades funcionais devem compor um programa de exercício físico para idosos, a Capoeira está sendo adaptada para que possa ser praticada por essa população, respeitando suas limitações e mantendo uma significativa qualidade de vida. Sendo assim, o estudo verificou os efeitos da prática da Capoeira adaptada sobre variáveis da capacidade funcional de mulheres com mais de 60 anos, constatando possíveis colaborações ao público investigado enquanto qualidade de vida. Para isso, avaliamos a capacidade funcional das idosas por meio de testes motores como agilidade, flexibilidade, potência e resistência dos membros inferiores, assim como equilíbrio estático. O período do programa de treinamento de Capoeira adaptada foi de 12 semanas com duas aulas semanais de 60 minutos. As aulas foram divididas em 10 minutos de alongamento, 20 minutos de aquecimento com músicas e brincadeiras recreativas, 20 minutos de Capoeira adaptada e dança de Maculelê e 10 minutos finais de alongamento, relaxamento e aspectos musicais de Capoeira. Utilizou-se a estatística descritiva e foram calculadas as diferenças percentuais de aumento ou diminuição das variáveis medidas. As significâncias das diferenças entre os resultados obtidos antes e após o treinamento foram determinadas usando Teste t de Student para amostras pareadas, aceitando-se o nível de significância de p < 0,05. Os resultados da avaliação da capacidade funcional mostraram melhora significante para o teste de agilidade, aumentando 9,3%. A resistência de membros inferiores aumentou 33,8%. A flexibilidade aumentou em 68,1% e o equilíbrio estático aumentou em 83,5 segundos, sendo todas diferenças significativas (P < 0,001), respectivamente. Apenas a potência de membros inferiores não apresentou melhora significativa (P > 0,05). Portanto, o estudo encontrou uma melhora significante em quatro das cinco capacidades funcionais analisadas, especialmente na flexibilidade e no equilíbrio estático. Nesse sentido, pode-se afirmar que o treinamento com a Capoeira adaptada para população de mulheres idosas parece auxiliar na manutenção, bem como na melhora das capacidades funcionais e, consequentemente das atividades da vida diária, proporcionando melhora na qualidade de vida.
Palavras-chave: Mulheres idosas; Capoeira; Capacidade Funcional; Qualidade
de vida.
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